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13 de fevereiro de 2011

Vida pacata


– Oh vidinha cachorra! – queixava-se Júlia ao telefone à sua inseparável amiga Paula. – Essa cidade não tem absolutamente nada de bom para se fazer!
– É verdade, Júlia. Até parece que estamos ilhadas. A propósito, o que iremos aprontar hoje à noite? Baile nem pensar, né?
– Não, nem pensar mesmo, Paula! Não estou nem um pouco a fim de baladas corriqueiras. Se você topar, podemos passar pelo bar do Aldo, tomar algumas doses de uísque e, só para não perder o costume, sacanear com alguns desses babaquinhas que vivem nos xavecando.
– Grande idéia! – exclamou Paula. – Inclusive, encontrei com a Miriam hoje e você nem imagina o que ela falou...
– O quê? – indagou Júlia.
– Disse que viu muitos carinhas de fora desfilando pela cidade... Esse feriado vai ser muito melhor do que estamos esperando! Olha aqui, Júlia, tenho que esperar meus pais voltarem de uma festa de aniversário e logo mais vou até a sua casa. Lá pelas nove, nove e meia, devo estar chegando, ok?
– Tudo bem, Paula. Ah, só mais uma coisinha...
– Pode falar.
– Traga a sua roupa e não se esqueça daquele seu estojo de maquiagem que nós nos aprontamos aqui em casa dessa vez. Vamos arrasar, amiga! Vamos mostrar pra todo mundo o quanto e do quê nós duas somos capazes.
– Deixa comigo! Até mais, então.
– Tchau.
Como combinado, às nove horas e alguns minutos, Paula tocava a campainha na casa da amiga. Recepcionada por uma simpática e misteriosa Júlia, as duas subiram as escadas rumo ao quarto. Vestiram-se juntas – cada qual opinando livremente sobre a combinação escolhida pela outra – maquiaram-se, pentearam-se e, após uma breve despedida dos donos da casa, saíram felizes e extremamente ansiosas para pôr em prática o plano daquela sexta-feira, feriado nacional.
Seguiram com o carro que Júlia havia ganhado como prêmio por ter entrado na faculdade e, antes mesmo de cruzarem a primeira esquina, não puderam deixar de notar os olhares, nem de ouvir os comentários de alguns vizinhos – para os quais Júlia não passava de uma garota mimada, etc., etc., etc. –, julgamento quase unânime entre os comentaristas sempre de plantão daquela típica cidadezinha de interior.
Estacionaram bem frente ao bar, desceram vagarosamente e, tão logo entraram, foram surpreendidas... Não é que a Miriam tinha razão! Foram reparadas e imediatamente convidadas a se sentarem à mesa de dois rapazes que elas jamais haviam visto antes.
Amigos inseparáveis há muitos anos, Sandro e Gustavo tomavam algumas cervejas antes da caçada. E qual não foi a surpresa quando viram aquelas duas garotas ali, bem à sua frente, prontas para caçar também. Imaginaram, cada qual a seu modo, que elas iriam ao baile, que talvez nem aceitassem o convite para sair, mas se enganaram redondamente.
Fora dada a largada. Copos e mais copos de uísque e cerveja se revesaram. Brindes e mais brindes, todos seguidos por palavras quase que arrancadas de dentro. Enfim, após uma longa sessão de olhares maliciosos, a primeira decisão fora tomada: Júlia ficaria com Gustavo e Paula com Sandro.
Trocaram alguns beijos, procurando sentir suas respectivas pulsações. Chamaram o garçom e acertaram a conta – sem se esquecerem de fazer aquelas ridículas piadinhas usadas no intuito de impressionar o gênero alheio.
Na rua, Júlia teve uma nova idéia: os rapazes deveriam as seguir.
Tomaram o rumo de uma estrada. Tinham mais é que aproveitar a vida, curtir aquela noite como se fosse única. Eram jovens e o crepitar de seus hormônios podia ser percebido até pelo observador mais incauto.
Após alguns quilômetros rodados, os rapazes, já impacientes, fizeram sinal para as garotas pararem. Júlia encostou, olhou bem nos olhos de Gustavo e simplesmente deixou escapar por entre seus lábios:
– Motel cinco estrelas, vamos?
– Ah?! É claro!
Retornaram à estrada e Paula quebrou o silêncio gargalhando demoradamente, no que foi completamente correspondida por sua amiga. Haviam tirado a sorte grande: dois caras legais, corpos sarados (ambos faziam musculação, era óbvio!) e, o ponto principal, os dois eram da capital.
– Sucesso garantido – dizia Paula, dando algumas palmadas na perna direita da amiga que pisava fundo no acelerador.
– Não te disse que a gente ia arrasar...
Um pouco atrás delas, no carro dirigido por Gustavo, os dois rapazes seguiam sorridentes e certos de que o plano arquitetado por eles também estava dando certo. Muito mais do que o esperado.
– Vai ser uma grande noite – sentenciou Gustavo, pedindo para que o seu amigo lhe passasse a garrafa de uísque que haviam comprado como provisão.
– É verdade, vai ser demais! Não te falei que essas garotas são assim: é só a gente falar que mora na capital que elas se derretem. Talvez um dia elas até descubram, mas aí já era – sorriu.
– Cara, o que eu quero mesmo é chegar logo nesse motel e ver a Júlia completamente nua na minha frente. Essa você está de prova, hein? Imagina só quando a turma ficar sabendo... Tenho certeza que vão falar que a gente combinou tudo.
Enfim, chegaram ao motel. Separaram-se rapidamente e cada casal foi para uma suíte especial – conforme lhes informou o atendente.
Saíram às cinco horas da manhã.
Na estrada, cada casal seguia bem menos afobado do que antes, porém sem trocar uma mísera palavra e – após chegarem à cidade – despediram-se trocando números de telefone inventados naquele mesmo instante.

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