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17 de fevereiro de 2011

Ano novo


Vamos lá! A partir de amanhã, vamos deixar de fazer cagada. Vamos parar de beber e fazer promessa pra não feder. Vamos fazer piada. Trabalhar e dizer que o sacrifício é para uma boa causa. Encher a casa de lixo e dizer que tudo é de muito bom gosto. Muito requintado. O ideal é ficar parado, fumando cigarro, pensando na gostosa que passou de carro: pô, um dia eu vou ter um carro – um tesão de carro – daí ela vai ver! Vamos deixar a vida nos levar, como na música. Vamos nos enxergar como estorvos, todos muito loucos, mas bem informados. Saber a quanto anda os Rankings, os Hábitos e os Costumes das Celebridades. Vamos discutir como heróis e agir como fuinhas, com todo meu respeito às fuinhas, é claro! Vamos bater palma pra nossa vidinha de merda. Quem tá numa boa, cara? Tá todo mundo se enganando. Pagando pau pra si mesmo. Malhando, descolorindo, repuxando, cagando e andando... Ah, vamos ouvir música, cantar para mostrar que somos e sempre estamos de bem com a vida. No ritmo dos hits. Vamos recortar e colar poesias introspectivas sobre a Pátria Submissa com todos os opcionais para encarar a triste vida de viver. Temos que curtir! Ainda somos jovens – e – nós sabemos, as horas contam a favor de outros e a gente tem que correr, cara! Correr atrás da maldita grana, para ser alguém, não deixar passar em branco. A gente tem que se mostrar! Estamos aí e queremos tudo e mais um pouco. Só não queremos que nossas vidas sejam sem sentido para sempre – como todo ano acaba sendo – aqui sentado, fumando cigarro. Tentando marcar gols de tabela na nossa imaginária partida médio-mundana. Afinal, nós nos sacamos! Somos aqueles que precisam porque precisam se destacar. O Mercado pede qualificações, certificados e boa aparência, e, é por isso que não podemos ficar de fora. O que precisamos é de união. Quando todos pensarem igual, não haverá mais problemas. O jogo estará aberto a todos, mas as apostas não poderão ser pagas. Que pena! Que tudo corra bem pra você e com suas escolhas, meu camarada! Mas – por favor – não me venha com esse papo de que tudo vai mudar, e que é só a gente acreditar. Com licença, preciso de mais uma cerveja e de mais um cigarro. Para comemorar.

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