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13 de fevereiro de 2011

Eu não acredito em vitrines


Tenho o hábito de sair à noite, beber cerveja em alguns bares, assistir a alguns shows e voltar para casa procurando luzes acesas nas janelas que vou encontrando pelo caminho. Sempre faço isso e, mesmo que estejam passando pessoas ou carros pelas ruas, eu não desvio o meu olhar. É uma espécie de obsessão etílica. Vou caminhando e imaginando, cantarolando para dentro canções que me fazem sentido. Vou pensando em como as bandas que eu tenho visto e ouvido ultimamente me parecem cada vez mais sem a menor graça: sinais dos tempos que eu nunca vou acompanhar. Acendo mais um cigarro e com ele minhas recordações se avivam ainda mais. Penso em minha avó (D. Teruko), em meus pais (Lucas e Cristina) e lá estou eu sorrindo feito um tio babão quando a imagem do meu sobrinho (Gui) me vem à cabeça. Recordo com alguns detalhes ele dando alguns de seus inúmeros passos, tomando alguns de seus inúmeros tombos, empurrando caixas vazias de cerveja pelos corredores da mercearia de minha família, do seu gosto pela música quando pede para colocar algum CD, quando ele dança ou quando pega a palheta e passa sobre as cordas do violão – surpreso – vivo! O moleque me ensinou muito nesses meses que estive por perto. Muitas coisas, coisas simples que eu já havia deixado de notar, ou sequer tinha parado para contemplar com calma. Olhar a lua, por exemplo. Ele se espanta, cara! Aponta várias vezes com os seus dedinhos e emite sons que eu nunca vou saber o que querem dizer... Mas, eu estava falando das luzes, das janelas, dos olhos que eu nunca encontro madrugada adentro. E hoje pela manhã eu acabei sabendo que o que me faz caminhar até em casa, comer alguma coisa e dormir é saber que – apesar de toda essa encenação que rola por aí – eu ainda posso escolher algumas coisas e pensar que algum dia meu sobrinho poderá pensar algo como: meu tio era um idiota, mas o cara não saia por aí fazendo qualquer merda só porque os outros estavam fazendo, ele quebrava a cara por conta própria.

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