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18 de fevereiro de 2011

A tormenta

Se nós preferimos as formas às qualidades. Se não existe sujeito ou mesmo indivíduo. Se autonomia, independência e vontade própria estão fora de moda. Se nos tornamos objetos inclusive para nós mesmos. Se convicção, escolha, exigência e gosto não passam de palavras. Se não existe crítica, discernimento, ousadia e reação. Se nós renunciamos à espontaneidade e à nossas personalidades. Se nós consumimos valores e condutas como produtos de beleza. Se nós desprezamos nossas potencialidades enquanto raça humana. Só resta nos conformar. Deixar que nos enganem totalmente. Conceder e nos desprezar mutuamente. Nos iludir e fingir estarmos sempre felizes. Pautar nossos comportamentos nos modelos construídos para suplantar amigavelmente nossas almas. Cultuar e venerar artistas e suas propriedades por odiarmos a nós mesmos. Barganhar nossa paz de espírito. Esquartejar nosso desequilíbrio emocional. Dar esmola para aliviar algumas de nossas culpas. Fazer tudo o que os outros estão fazendo, mas do nosso jeito. Viver tranqüilos e nos sentirmos especiais em nossas mediocridades, e, mesmo que às vezes nossos corações pareçam vazios e solitários, ainda podemos menosprezar nossos sentimentos. Imaginar a vida como um teste, um jogo ou até mesmo uma experiência onde tudo e todos que por ela passam sejam frutos da escolha divina.

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