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18 de fevereiro de 2011

No campo da vida

Solidão não é um bar vazio, mas um bar abarrotado de pessoas que, apesar de não concordarem, são todas iguais. Solidão não é um cão sem dono, mas uma ninhada de filhotes chorando num pet shop à noite. Solidão não é um velho tocando acordeão, mas uma banda completa sem nenhum feeling. Solidão não é um palco vazio, mas um palco repleto de celebridades que insistem nas mesmas piadinhas sem graça. Solidão não é o fim de um casamento, mas a continuidade de muitos que sobrevivem pautados na mediocridade. Solidão não é o choro, mas as gargalhadas da indiferença. Solidão não é uma casa sem decoração, mas muitas onde o aparelho de televisão é o centro das atenções. Solidão não é ouvir Bob Dylan completamente bêbado, mas dançar um desses funks imbecis para atrair a atenção. Solidão não é um rosto abatido – olheiras à mostra pra todo mundo ver –, mas as maquiagens carregadas, as cirurgias plásticas e todas essas merdas que homens e mulheres usam para tentar esconder o que estão sentindo. Solidão não é a chuva, a neve ou o vento, mas o sol que põe em primeiro plano todo o brilho de suas concessões. Solidão não é reler um livro do Camus pela quinta ou sexta vez, mas assistir MTV o dia inteiro e se identificar, se sentir parte do jogo que está estabelecido. Solidão não é um copo de café vazio, um cinzeiro cheio ou ­uma mesa forrada de garrafas, mas a estrela que vez por outra ainda me guia.

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