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21 de fevereiro de 2011

Espantalhos


        Até quando precisarei ver todos esses espetáculos banais protagonizados por atores que se acham tão especiais? Até quando agüentarei todos esses seres fingindo que estão contribuindo com as revoluções bio-psico-culturais? Só porque desfrutam de alguns privilégios intelectuais ou artísticos, vocês acham que podem se entregar ao luxo de comemorar? Só porque seus pais têm contatos acham que tudo pode se comprar? Que todo mundo é tolo e quer se enganar? Até quando conseguirei conviver com todos esses imbecis que ainda não perceberam que é fundamental se integrar? Até quando conseguirei viver nesse meio sem amor simplesmente porque todos esses babacas não sabem deixar de concorrer para se diferenciar? Por que não aceitam que às vezes é preciso renunciar ao hábito para viver de fato? Até quando vou ouvir todas essas asneiras que ninguém sabe nem porque nem onde foram buscar? Até quando tenho que entender e respeitar todas essas opiniões insensatas que almejam só o próprio prazer ou bem-estar? Até quando tenho que encontrar essa turma de canequinhas penduradas em mochilas, que não hesitam em dissertar sobre todas as teorias, mas que negociam sua dignidade em qualquer lugar? Até quando escutarei essas músicas que, segundo dizem, servem somente para dançar? Para que todos esses palermas possam extravasar seus anseios de trocar de parceiros sempre que houver uma nova chance de uma orgia participar? Eu realmente não me importaria se isso não houvesse me colocado aqui, bem em frente desses indivíduos que só pensam em me enfeitar. E em me usar. Eu realmente não julgaria se não tivesse expectativas quanto a um universo que está a desabar. Eu sequer falaria se não assistisse a esse jogo e não fosse junto desse contínuo desabar. Eu realmente não me machucaria se não visse tantas atrocidades que me fazem desacreditar. Eu realmente não escreveria se não precisasse de mais um pouco de ar. Eu realmente não me importaria se não soubesse que muitas vezes são os próprios pais que confundem seus filhos, forçando-os a se esquivar. Eu realmente não me importaria se todos esses medíocres não assumissem responsabilidades e não fizessem promessas que nunca serão capazes de cumprir. Que vão continuar explorando e sendo explorados até o fim. Eu não me importaria se não ouvisse todos os dias esses recados de adultescentes que seguem a linha fixa só por não fazerem nenhuma idéia honesta sobre si. Eu não me importaria, mas me importo. E, todos os dias, quando me levanto, agradeço por todos aqueles que sabem que toda essa confusão e essa merda de relatividade absoluta dos valores não passa de mais uma estúpida forma de controle de nossas forças e vontades e que legitima a conservação dos privilégios que todos esses traidores não conseguem sentir que usufruem, mas que insistem em preservar. Por enquanto. Pois, se vocês querem reconhecer que nossa espécie é escrava de suas próprias fragilidades, eu acredito que nossas vulnerabilidades estão expostas para que possamos pegar outro caminho e nos ajudar. Eu estou esperando. Descobri que nenhum desses predadores que passam por esse campo é capaz de ser mais egoísta do que meus próprios iguais.

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