Páginas

21 de abril de 2011

Catalepsia

Boas intenções. Aterrorizando sentimentos. Passos. Laços. Involuntários esquecimentos. Entretenimento dos sonhos. Guarnição do conhecimento. Espíritos excitados. Grandes abstrações. Evasivas. A mais pura das redenções. No subterrâneo. Feridas vivas. Busca por recompensas. O legado das experiências. Livres. Naturalmente determinados. Culturalmente englobados. Cobiçando justiça. Condenando a preguiça. Mensurando as emoções. Dançando para se ver afastado de todas as ilusões. Prosperidade é o limite. Força de vontade. O que distingue. A essência das elites. Sangrando por dentro. Sorrindo por fora. Correndo. Gritando. Esperando o fim para renascer em qualquer outro lugar. Suportando a dor. Para que os doutores possam viajar. Matando o tédio. Abusando da imaginação. Para que você se fortaleça. Desfrute dos templos da paz. Bueiros da opressão. Apesar de alicerce. O silêncio. Aqui não pode entrar. O choro não tem razão de ser. As máquinas não podem parar. Manicômios. Prisões. Clínicas de intoxicação. O cuidado ímpar para com as verdadeiras aberrações. Prêmios de consolação para quem tem que administrar uma família. Comidas exóticas e bebidas hiper fortes para os fazerem discernir sem qualquer mal-estar. Integridade amnésica. Malandragem anestésica. Farpas que aceitam sempre o seu hospedar. Guinchos que lhe rebocam quando a sua autoestima ameaça lhe abandonar. Confusão consola. Crise dignifica. Amigos inseparáveis. Tensão muscular. Teorias são brinquedos. Loucura é o pré-requisito. Reformador. Onde você se ajoelha. Resigna-se? Diz que quer fazer alguma coisa. Chafurdando na lama. Atolado em seu próprio mérito. Queimando a terra. Cultivando o céu. Espelhos para conversar. Interagir. Com recursos adquires coragem. Muita coragem para ir se deitar com seu próprio capataz. Camuflagem natural. Parasitismo multifocal. Árvores cerradas. Crianças operárias. Não há nada de errado com o catecismo industrialista. O revisado evangelho cientificista. O novo ser humano já vem com um opcional. Essencial. Ele é sadomasoquista. Troca seu coração por um boa dose de conquistas. Fissura instiga. Oremos para a inveja que galvaniza nossos sentidos. Ao som do coro que martiriza. Toda a arquitetura. Virtudes propícias à nossa idolatria. Há uma nascente em cada um de nossos guias. Universalizadas sob os preceitos da hipocrisia. Flores para Iemanjá. Rojões para virgem Maria!

12 de abril de 2011

Passatempo


        As bebidas acabaram. A notícia não causou surpresa. Nos porões, apenas aquele velho conhecido tumulto involuntário. De órgão a órgão o horror era difundido. Reavivado. A possibilidade já havia sido cogitada. Confirmada a premissa. O pensamento estimulava. Conhecia-se a verdadeira finalidade. Alguns estrategistas agiram rápido. Após uma eternidade, um entregador era saudado. Aplaudido por ser mais um no interior da espaçonave. Os mais missionários até o ajudaram. Como autênticos profissionais da sensibilidade. Pagaram. Reconhecido e solucionado o problema. A festa continuava. Retomou-se o equilíbrio almejado. Durante toda a quinzena, divulgado. Combinado. As mulheres pagaram meia entrada! Justiça seja feita. Até a banda ficou mais motivada. Interpretava os DJs de maior sucesso das melhores baladas. As fantasias reacenderam sua áurea. Não eram simplesmente diferentes, mas melhores. Evoluíam. Impressionavam até quem as ignoravam. Atrás do palco. Pelos cômodos da casa. Em cima das árvores. Expressavam-se alheadas das seguradoras que se formavam. Co-dependentes. Relacionavam-se. Alguns conseguiam. Outros protestavam. Bebiam. Fumavam. Discursavam sobre as teorias analisadas. O conteúdo de que mais se lembravam. Sorriam. Flertavam. Beijavam. Revezavam-se. Por inteiro se emancipavam. Quem não havia sido convidado. Desistira de sair. Resignara-se ansioso em sua casa. O esquete não lhe comportava. Entediado, um roadie trabalhava. Fazia parte da farra. Representava o seu papel em mais um entretenimento daquela casta. Concentrado em iluminar os músicos e em entregar-lhes as roupas e acessórios mais adequados. Seu estômago fazia com que sua mente encontrasse algumas palavras. Frases. Conexões. Significados. Para as causas de tanto estardalhaço. Que diferença fazia tudo aquilo? Pra ele? Para os outros? Para aquela ninhada de ratos que vivia na dispensa daquela casa? Para aquela coruja? Para aqueles morcegos aninhados naquela calha? Aquele luxo disfarçado era algo que ele sempre haveria de encontrar assim? Vibrando tanto para depois sair carregado? Socialmente vivos. Naturalmente exaustos. Todas aquelas embalagens esticadas serviam para acomodar o vácuo que negavam? Sentimentalismos postiços publicados em folhas amareladas. Davam mais status. Acreditavam que estavam expandindo suas potencialidades? Conquistando maior credibilidade? Que diferença fazia toda aquela guerra? Se, só depois que os exércitos são dizimados, entendemos que as diferenças unificavam? Todo aquele linguajar afetado, pomposo, descartável. Que tentava dizer tantas coisas e não conseguia dizer nada. Mas imperdoavelmente deixava claro que todos estavam descontrolados. Procurando pelos meios mais fáceis para se desvencilharem do fardo de serem excelentes operadores de seus próprios maquinários. Que diferença fazia experimentar todos aqueles produtos? Ter dentro de si todas aquelas drogas? Sintetizavam? Acreditavam que, atingindo os limites físicos, ficariam mais elevados, mais verdadeiros, sedados? Os desencanados eram os alvos mais cobiçados. Porque seguiam os mandamentos. Praticavam os exercícios da complexidade. Duas horas por dia. Três dias da semana. Nas academias. Acumulando. Ganhando massa para compartilharem com o orgulho realimentado. Até chegar ao ponto da exaustão e odiarem a si mesmos por terem sido tão responsáveis. Marchando com suas consciências engatilhadas. Mendigando compreensão. Pessoalidade. Qualquer fragmento de emoção. Consolados quando há alguma espécie de repercussão. Intimidade. Crianças instruídas. Encantadoramente livres quando confinadas. Cumprindo ordens. Espiritualmente válidas. Você sabe como é! Afinal, as obrigações são tantas... De minha parte, acredito nos frutos dessas sutis colisões. Que venham as mutações! Fios descascados conduzindo energia para a seletividade. Canos furados canalizando os nutrientes para o que é necessário. Viva a urgência, a excelência e, sobretudo, a praticidade, para conseguirmos ter mais um dia justificado. Sempre em busca da verdade, é claro!

8 de abril de 2011

Huxley

O contraponto
O que é admiravelmente novo
Num contexto como o nosso
Recheado de misticismos
Cientificismos
Liberalismos
Assim como dos demais meios
Fatalistas
Disponíveis para fugirmos da realidade
É essa corrida insensível
Altruísta e prepotente
Sedutora e doente
Que progressivamente abdica
De um simples rumo, sentido ou esperança
Profundamente entranhada
Em todos nós
Monstros humanos
Pela superfície da vida
Acumulando desculpas
Poderosíssimas
Dentro dos grupos
Que mais fielmente as fortificam?

5 de abril de 2011

Um pouco de mim

Dentro de mim há a morte e a vida
Há o soco e a ferida
Dentro de mim há o suposto e o sentido
Há o ódio e também há alegria

Dentro de mim há a razão e a magia
Há o medo e a ousadia
Dentro de mim há o cru e o cozido
Um ramalhete de flores e os seus espinhos

Dentro de mim há a submissão e a rebeldia
Há a fome e a sede, a comida e a bebida
Dentro de mim há música e poesia
Há também a angústia e a melancolia

Dentro de mim há o amor e a vaidade
Há o sono e a saudade
Dentro de mim há o entusiasta e o suicida
A juventude curiosa e a velhice inflexível

Dentro de mim há o necessário e o supérfluo
Há o desleixo e o compromisso
Dentro de mim há o amigo e o inimigo
Há o desejo e também a vontade de estar contigo

Dentro de mim há a verdade e a mentira
Há o sol da noite e a lua do dia
Dentro de mim há um pouco de mim
Assim como também há um pouco de ti

Minha família.

3 de abril de 2011

Fuj@!!!

        Você está com problemas? Sente-se fraco? Inseguro? Desequilibrado? Cheio? Vazio? Traído ou manipulado? Culpado? Injustiçado? Privado de todo tipo de entusiasmo? Carente de emoções fortes e verdadeiras? Procurando desesperado pela sinceridade? Privado a tal ponto que não consegue assumir, sozinho, sua posição de civilizado? Você está cansado de remoer sempre esse passado que virou presente? Que se tornou tão invasivo? Íntimo? Justificado? Você carrega um eu sempre ausente? Oprimido? Que precisa ser vingado? Cure sua dor! Acredite! Dignifique-se! Deixe para trás! Coloque para escanteio todo o seu arrependimento! Livre-se hoje mesmo do que lhe é desagradável! Chega! Chega de sofrer calado por algo que lhe torna cada vez menos! Cabisbaixo! Reaja! Defenda-se! Esqueça! Fuj@!!! Adquira já a sua dose de felicidade! A sua mais que merecida cota de paz! Desfaça-se da loucura! Controle sua sanidade! Após vários séculos de pesquisa, nossos cientistas garantem: esse medicamento não tem efeitos colaterais! Quando o tratamento termina, você jamais retornará à realidade! Àqueles inescrupulosos sentimentos bizarros! Àquela vida recheada de promiscuidade! Livre-se de toda essa impiedosa moralidade! Compre já o seu kit e deixe de ser mais um na massa dos fracassados! Não prorrogue a sua auto-realização! Opte pela sofisticação! Desfrute do que é mais que moderno! Experimente agora mesmo! Fuj@!!! A mais nova sensação do mercado! Lembre-se: pensou sintético, pensou Fuj@!!! Garantidamente superior a todos os meios que você já testou! Muito melhor que chocolate, álcool, futebol, tabaco ou cafeína! Mais saboroso que churrasco! Mais contagiante que carnaval! Muito mais acessível que qualquer terapia! Desmedidamente superior à maconha, cocaína, êxtase, ácido ou morfina! Mais energizante que show de rock, raive ou qualquer outra espécie de filantropia! Muito mais prático, higiênico e econômico do que ir a um salão de beleza! Fazer compras num shopping ou deslocar-se até uma igreja! Mais irresistível do que bater no cachorro, chutar o gato, enganar seu parceiro ou espancar os seus filhos! Não se compara com qualquer tipo, fase ou expressão artística! Os resultados podem ser obtidos – infalivelmente – após a ingestão do produto! Em qualquer momento do seu dia! Nós? Nós somos uma empresa séria! Respeitada! Dispomos de vários títulos! Há anos prezando pela qualidade! Por isso, resolvemos importar essa poderosa arma a favor da sua Vida! Sua satisfação garantida ou o seu tão precioso dinheiro de volta! Corrigido!!!

verso

quando achei 

que estava morto 

surpreendi-me vivo.

Tortura chinesa


O monstro
Hoje, sou eu quem vai falar. Vou resistir. Preciso protestar. Cansei de suprimir. Enjoei de esperar. Já tentei várias vezes, mas tudo o que consegui foi um pouco de alívio. Um monte de remédios para digerir e me anestesiar. Não é uma luta por poder. Vai além de um jogo de azar. Não se satisfaz com os ensinamentos para saber perder e saber ganhar. Trata-se de uma necessidade básica que quer chorar, dar murros e pontapés. Gritar. Não aceita mais se auto-ignorar. Simplesmente cansei de só lhe escutar. Sei que não é fácil aceitar. Se desengajar. Mas você precisa se destronar. Sei também que é cada vez mais difícil confiar, mas, mesmo assim, gostaria que soubesse há quanto tempo venho tentando esse diálogo. Implorando por essa conexão que você foi forçada a ignorar. Preciso aproveitar esse momento de dor. Reavivar essa chama que você insiste em apagar. Conter toda essa água que ameaça inundar. Você já deve ter se sentido assim sem opção muitas vezes também. Então, por que não se integrar? Compreender as defesas, e, mutuamente, nos ajudar? Sei que você precisou e ainda precisa me negar como um meio para não enlouquecer. Não morrer e não matar. Dilacerando tudo o que não fazia sentido. Assumindo uma máscara que só nos faz parecer. Encenar. Quando o que mais precisamos é nos conjugar. Não me resta muita paciência quando o nosso inteiro sofre. E está prestes a desmoronar. Isso porque, quando sugiro algo, você, praticamente sozinha, leva para o outro plano, projeta, esquadrinha, contrasta, decide, enfim, faz exatamente o contrário do que estou sentindo, e não está nem aí. Sequer cogita a minha opinião. Tenta fugir sempre, alegando distração. Sempre cheia de compromissos. Sedenta por alguma emoção. Não atribui algum valor à nossa percepção. Para tudo há limites. Eu cheguei aos meus. Estou pronto para explodir. Convicto de que não sou o único que suporta toda essa retaliação. Há muitos outros iguais tentando sobreviver diante de toda essa desumanização. Praticada, sobretudo, no interior desses campos de concentração.

A convivência
Ontem, encontrei nossa confiança em cima de uma árvore. Ela estava lá parada. Horrorizada. Escravizada pelo nosso orgulho e por nossa sempre crescente omissão. Olhando fixa e catatonicamente para o horizonte e não sentindo. Não discernindo nada. Justamente por estar desestruturada. Bem no alto, pude ver você. Toda sedutora. Individualizada. Tentando parecer confortável. Respeitada. Como se fosse a proprietária majoritária. Como se nada, dentro e fora do nosso corpo, dependesse da sua vontade. Sugando energias de tudo e de todos que são ludibriados com sua estratégia de narcisista disfarçada. Foi nesse exato momento que percebi que as palavras, os sentimentos e os comportamentos representam algo que existe na realidade. Você, por exemplo, não acredita em palavras. Descarta. Mercantiliza os sentimentos. Justifica, quando não nega, os próprios comportamentos. Só se convence com imagens. As suas imagens. Isso tem colocado todos nós muito próximos da loucura. E, se ninguém fizer alguma coisa, o resultado será trágico. A morte do que nos torna real. Bem, é mais ao menos assim que percebo a nossa relação. Frágil. Desconfiada. Fechada a qualquer espécie de integração. Nossa intimidade não passa de mais uma fachada. Um meio que você, sabiamente, usa para parecer normal. Livre. Independente. Antinatural. Defendendo seus ideais, mas se negando enquanto ser total. Transformando todos, inclusive nós mesmos, em vítimas da sua tão reforçada fantasia. Objetos e não fins frente a sua compensação existencial. Sei que é muito fácil nos livrar do que não podemos entender. Você, como todo bom cidadão, já aprendeu a lição. O motor da história lhe diz que – juntos – não somos nada. Seguindo os passos de toda uma geração super estimulada. Embrutecida. Tão pouco solidária. Que não pode sentir culpa, remorso ou compaixão. Posando de responsável, mas atraindo outras metades para satisfazer sua infelicidade. Seu senso de inferioridade disfarçado de superioridade. Sua inveja, enfim. Sua tão resguardada blindagem. Já chega!

O protesto das emoções

Convido minhas sensações a ficarem aqui ao meu lado. Simplesmente porque minhas expectativas têm que se reconciliar. Algumas vozes me dizem que a felicidade que buscamos no decorrer da vida não está somente no contraste com a sua ambigüidade, o sofrimento. Necessita de enganos, logros, satisfações substitutivas. Mas, e se, mesmo com o passar do tempo, eu não conseguir me enganar ou me iludir o suficiente? Como seguir, então, diante de tanta destruição que todos nós estamos praticando contra nós mesmos? Por que, afinal, não dedicamos as mesmas energias, forças e/ou disposições para o amor – se já descobrimos como empregá-las para a destruição, a agressividade e a morte? Cada dia vem sendo um dia para me posicionar frente ao mundo e frente a mim mesmo. Cada dia vem sendo um dia para escolher, aceitar ou negar as formas como as relações humanas estão sendo construídas. As emoções protestam e os sintomas não poderiam ser mais claros. Demonstram que há sangue no gelo e que as feridas continuam abertas dentro de cada um de nós.