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31 de maio de 2014

Libertários

Que seja em menor quantidade
Que seja então pela vontade
Consciente e sensível à sua falibilidade
Que haja portanto o enfrentamento
A toda forma ou conteúdo convencionado
Que persista o ideal
Ainda que não institucionalizado
De que a vida é vida
E de que os meios que proporcionam status
E tão pouca tranquilidade
Às assim chamadas autoridades
Continuam sendo só meios
E não a única e definitiva possibilidade
De nos desenvolvermos
Educando-nos todos os dias
Para compreendermos
Transformando
Transformando-nos
Sempre que quisermos
Nossos sempre inacabados
Padrões de moralidade
Colocando-os além dos dogmas
E de todos os falseamentos
Que querem nos fazer aceitar
Para limitarmos ainda mais nossas escolhas
Quando o que está realmente em jogo
É o que poucos reconhecem como sendo nossas liberdades.

26 de maio de 2014

Afronta

A arte não é uma simples retrospectiva de um destino dado por compaixão
A arte é controversa, vai além de uma forma de registro de biografias, períodos e opiniões
Precisa ser crítica, ácida, impiedosa investida contra nosso hábito de fugir por meio da aceitação
A arte expõe, alerta, implica, trabalha às claras com o que a hipocrisia quer deixar sempre mantido na escuridão
Não tem que se meter a oferecer reforços às velhas e prepotentes tradições
A arte é ferida aberta, antídoto inconstante, desespero pulsante por outras mudanças para nossas atuais e futuras situações
A arte é busca e denúncia sobre onde há e o que fazer com as hierarquias que se querem imutáveis a favor dos poucos que podem desfrutar das nossas realizações
A arte não se dedica, como se acredita, ao puro entretenimento ou à oferta da pseudo salvação
Os seus gêneros e estilos querem muito mais do que consagrar a servidão
A arte deve invadir, pressionar, fazer sangrar, deixar morrer as estruturas que monopolizam e impedem nosso tempo de ser nosso guia para fazermos algo mais do que trabalharmos e nos vermos como corpos estranhos em nossas próprias instituições
A arte ironiza a moral do tolo que se norteia pelas tentativas de imposição do igualmente tolo senhor
Sendo assim, a arte não é apreciada por aqueles que se acomodam com o costume do clamor
Desagrada sem se importar e não se ilude quando deixa uma boa ou má impressão
A arte não bate continência, não respeita autoridade, quer que os hinos e os exércitos explodam junto com todo o seu rancor
A arte não se ajoelha, não reza, nem dá valor positivo aos sermões
A arte tenta, se angustia, sabe que toda ocasião tem pelo menos dois lados para gerar debates sobre suas possíveis contradições
A arte é iconoclasta, antipatriótica, misantropa
Procura fazer com que a gente não se norteie só pelo que dela se comenta ou já se comentou
A arte não é sagrada, nem heroica, muito menos uma mera questão de se possuir um dom
Pode e deve estar disponível ao fazer e ao pensar daqueles e daquelas que não são nem querem interpretar o papel de figurões
O que é a arte, então?!