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18 de julho de 2012

O vento

        Eu que não vejo mais graça em quase nada. Saturado de todos estes golpes, de tantas malandragens humanitárias. Vou destoando deste progresso supérfluo que nos ameaça quando procuramos uma verdadeira relação planetária. Observando o rebuliço que o vento faz com as folhas pelo calçamento das ruas e das praças. Por onde durmo, por onde passo. Encontro muitos desses seres que se julgam super descolados. Acho até que não poderia existir expressão mais acertada, pois são mesmo tão descolados que nada – a não ser a sua interminável ambição – desperta as suas sensibilidades. Encantados, mesmo sendo arrastados. Criam seus filhos, ensinam-lhes a fazer chantagem. Sem raízes, querem a recompensa televisionada. Tão confiantes, hiper confortáveis. Com os seus financiamentos, põem em leilão a sua dignidade. A diferença é sentida pelo número e a extensão de suas propriedades. São realmente festejados. Por vencerem os concursos de seleção. Para as profissões mais invejáveis. Suas atuações são até premiadas, mas os seus corações – apesar de protegidos com o melhor dos trajes – ainda continuam gelados. Mesmo que o vento já tenha passado. Soprado forte e partido os galhos que me abrigavam.