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12 de dezembro de 2012

Perda

Sinto muito
Pela perda que sofreram
E ainda sofrem
Ao se verem privados
De continuarem a gerar um novo filho
Ou filha
Aqui no Brasil
Aí no Japão
Sob a mesma lua
Sob o mesmo sol
Todos nós tão parecidos
Em nossas perdas
Em nossas alegrias
Nesta vida que depende
De nosso sentido
Atribuído
Pelos laços
Que construímos
Com respeito
E cuidados insubstituíveis
Entre os indivíduos
Que não é por acaso
Chamamos
Verdadeiros amigos.

Releitura

       Descrever, contar, narrar, brincar de recompor, almejar prosperar. Em seu estilo. Sem excessos. Com propósito. Sem floreios. Não querendo sempre e comodamente mais. Para selecionar o que melhor agradar. Conhecer o que já conhece. Relembrar. O que nunca foi capaz de imaginar. As diferenças dentro de um organismo que também procuram uma ligação honesta. Consistente. Com outras diferenças e semelhanças que não necessitam se ligar a tanta futilidade ornamental. Mas apenas um lugar para se sentirem seguras e até chamarem de lar.

        Não imaginávamos algo assim. Há muito projetávamos, mas não tínhamos certeza de que haveria um fim. Faltava continuidade, cadência, obstinação, a alma nesse estranho jeito de se ver. De se representar. E se apresentar. Viver para abandonar e até negociar esse laço que não pode se quebrar só porque nossas sociedades são um péssimo lugar para se criar.

       A música e a literatura sempre serão um bom modo de expressar. O que sentimos quando queremos encontrar. Alguma brecha para enfrentar. Agindo sem violentar. Mesmo que em reclusão estar. Por acreditar. Não nessa nojeira operante de fazer o que há muito já se faz. Sem ao menos suspeitar. Que todo este profissionalismo. Que toda esta especialização é o que nos coloca diante desse desmoronamento que querem nos fazer venerar.

       O clima era de muita insegurança para que algo, por mais sincero que se manifestasse, pudesse durar. Vou me lembrar. Porque já fui criança e não vejo só os pequenos detalhes. Sinto uma espécie de totalidade, de harmonia ao presenciar. Posso – sei que posso – explicar as coisas a partir do que sinto e não só através de palavras repletas de certezas relativas. Meias-verdades que não passam de mentiras inteiras. Evasivas caem bem para quem tem sempre coisas a esconder. Justificar.

Para que seja possível

Precisa se encontrar
Parar de procurar
Precisa se juntar
Para, enfim, recomeçar
Reconhecer, expressar
As emoções negativas e positivas
De quando esteve numa armadilha
E não podia agir
Fugir ou lutar
Precisa se aceitar em primeiro lugar
E não somente esperar
Agradando a sua recompensa
Negada indiferença
Carência
Que só lhe faz
Muito mais capaz
De humilhar
E jamais propagar:
Não posso te ajudar!


Dignidades sem sustentação

As compensações
Não passam de outras atrações
Para iludirmos
Nossas compreensões
Incluindo
Nossas sensações
Nesse nicho
De pequenos e grandes caprichos
Enlevos para nosso orgulho ferido
Afirmando
Que somos os mais complexos
Entre todos os bichos
Os mais poderosos
Os mais entendidos
Imprescindíveis
Para mantermos o equilíbrio
Sustentando o compromisso
De incorporarmos nosso cinismo
De todos os nossos segredos
Nossa antinaturalidade
Nossas evasivas
Às características do presente
Que agora construímos
E que quase nos torna seres melhores
Não fossem os vazios
Dos serviços que nos servem
Com todos os carimbos
Que nossas vaidades
Necessitam
Para se sentirem dignas
De tantas investidas
Que só querem
Esquecerem-se do que sabem
Perdido.

8 de agosto de 2012

Eclético

        É incrível essa falta de iniciativa. Toda essa ausência de resistência. Sem o menor equilíbrio entre a imaginação e a experiência. O instinto permanece míope. Exercitar a vontade passa a ser o mais temível sacrifício. Muda a moda, passa a fase, leva vantagem quem se apaixona por seus vícios. A maioria que imita prefere ignorar as incansáveis tentativas de quem cria. Se inquieta. Rejeita. Afasta-se das multidões que sustentam seus próprios tormentos. Sem questionamento. Sem sangue. Sem seiva. Sem vida. Por fora. Por dentro. Não se ativam. Repetem palavras. Comportamentos. Pavoneiam-se com frases de efeito. Sem notar que estas representam ideias, ideais; árdua construção para refletir com os sentimentos. É possível ser assim tão tolerante – tão gente boa, como você se pensa – sem se tornar conivente com tamanho fingimento?

18 de julho de 2012

O vento

        Eu que não vejo mais graça em quase nada. Saturado de todos estes golpes, de tantas malandragens humanitárias. Vou destoando deste progresso supérfluo que nos ameaça quando procuramos uma verdadeira relação planetária. Observando o rebuliço que o vento faz com as folhas pelo calçamento das ruas e das praças. Por onde durmo, por onde passo. Encontro muitos desses seres que se julgam super descolados. Acho até que não poderia existir expressão mais acertada, pois são mesmo tão descolados que nada – a não ser a sua interminável ambição – desperta as suas sensibilidades. Encantados, mesmo sendo arrastados. Criam seus filhos, ensinam-lhes a fazer chantagem. Sem raízes, querem a recompensa televisionada. Tão confiantes, hiper confortáveis. Com os seus financiamentos, põem em leilão a sua dignidade. A diferença é sentida pelo número e a extensão de suas propriedades. São realmente festejados. Por vencerem os concursos de seleção. Para as profissões mais invejáveis. Suas atuações são até premiadas, mas os seus corações – apesar de protegidos com o melhor dos trajes – ainda continuam gelados. Mesmo que o vento já tenha passado. Soprado forte e partido os galhos que me abrigavam.

29 de junho de 2012

Filhos dos filhos

        Me pergunto onde andará aquele instinto que os levou a gerar seus filhos, se não cuidam deles como é preciso. Colocando-os no lixo, livrando-se da carga ou culpando-os por terem vindo. Será vingança ou algum impulso irreprimível? Os órfãos de hoje – cujos pais estão quase vivos – necessitam de outros incentivos além de pensões alimentícias.

Razoável

        Assim, fica tudo muito mais fácil. O que era escuro acaba parecendo claro. Não há razão para se perguntar pela verdade. De acordo com as épocas festivas. Comemoramos as inúmeras datas. Pra gente seguir sem sentir muitos desagrados. Participar sem compromisso, sem enfado. Aperfeiçoando as atitudes de quem sabe. Que a vida é assim mesmo. E, se fosse de outra forma, tudo bem também. Tanto faz.

28 de junho de 2012

Cisma

        Sim, nós chegamos ao ápice. Vivemos desconfiados. Fomos tantas vezes enganados que só nos restou essa suposição. Agimos amedrontados por convivermos sufocados nesta recíproca humilhação.

Sobre o frio

Ando expelindo alguns cacos de vidro
Preciso, mas não consigo reuni-los
Meus dedos trêmulos hesitam
Talvez temam ficarem tão gelados
Quanto o corpo que um dia os sentiu.

Compaixão

Estabelecer conexão
Sentir o que o outro sente, então
Mudar de posição
Colocar-se, por conta própria,
Atrás do balcão
Servindo aos outros
Que lhe enxergam com dó
Por não terem outra opção.