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6 de setembro de 2015

Nossa oferta

       Seus métodos são realmente demais! Fragmentar para melhor controlar. Confundir para conseguir legitimar. O poder de usar os meios concedidos como prêmios para fazerem o grande favor de conosco se comunicar. Focalizar o telescópio mundial em desafios exclusivamente locais. Como se as suas campanhas de caridade pudessem realmente ajudar. Celebridades abusando de nossa paciência. Fazendo tudo o que seus senhores conseguem imaginar. Desumanizando-se a si mesmas e esbravejando quando novos objetos precisam tomar o seu lugar. Transmitindo os sinais. Abrindo novas filiais. Disputando a audiência que vai lhes entronizar. Garimpando lucros onde o que é coletivo começa a sangrar. Capas. Manchetes. Matérias sensacionais. Informações uniformes. Sobre lugares paradisíacos que não podemos frequentar. Tudo isso para que a gente possa, afinal, desfrutar. De todos os seus sonhos no conforto do nosso lar. E depois voltar a trabalhar. Com afinco. Para que o que produzimos todos os dias conseguirmos a eles entregar. Com um sorriso sincero no olhar. Como que a lhes agradecer. Por nos governar. Por nos proteger. E evitar que a gente se sobrecarregue com todas as questões que envolvem o nosso tempo presente e também o que ainda virá.

Espaços democráticos

...Meu sonho era fundar uma escola em que os jovens pudessem estudar sem aborrecer-se; em que fossem estimulados a formular problemas e a discuti-los; uma escola em que ninguém precisaria dar atenção a discussões indesejáveis em torno de questões desinteressantes; uma escola em que não fosse preciso estudar com o único objetivo de passar nos exames.” (Karl Popper)

   É preciso afrontar. Reagir. Debater sem medo de nossas zonas de conforto abandonar. Desconstruir as velhas estruturas do período colonial ou do regime militar que ainda nos ameaçam quanto o que nos interessa é a formação do ser humano total. Capaz de constatar que a aceitação desta noção de harmonia imperturbável só tende a nos limitar. Iludindo-nos a ponto de mantermos os velhos hábitos como instâncias sagradas com as quais não devemos jamais nos ocupar.
   É desafiador encontrar. Dentro de uma escola. Dentro de uma família. Em qualquer instituição que pode e deve ir além do simples funcionar. Tantas propagandas reforçando a ideia de que não há outras formas de ser. Ou de estar. Se basta olharmos além de nossos preconceitos para nos defrontar com tantos seres, tantos outros jeitos de contribuir para a nossa tão necessitada dinâmica social.
   Já fomos “visitados” por uma santa católica. Há orações em todos os começos de períodos e até no início de algumas aulas de alguns(as) professores(as) muito perspicazes em seus conteúdos, mas que se equivocam quando chega a hora de praticá-los. Agora são as famosas missões populares. Alertando sobre a necessidade de nossas casas virem a visitar. Para o valor da sua fé nos ensinar. Seremos vistos como pessoas ou simplesmente como seres passíveis de arrebanhar? Não será essa mais uma forma de violência com a qual já nos cansamos de suportar, apesar de todos os apelos para nos categorizar como mais um povo cordial? Ou será que você também concorda com essa estupidez de estado-laico-católico que muitos de nós tivemos o desprazer de se ver anunciar?
   Se tivessem bom senso. Se ao menos estivessem certos de que também podem errar. As leis não haveriam de ser a base sobre a qual nossas ações deveriam se apoiar. No papel. Nos discursos. Nas situações em que podem tirar algum proveito. Exigindo somente os seus direitos. Dizem que querem uma sociedade democrática. Mas é só terem uma oportunidade. Que toda a fachada de coerência começa a desabar.
   Repito: filas para meninos e meninas, hinos, medalhas, uniformes, etc. são práticas totalmente desnecessárias. A não ser para manter a estrutura que nos obriga a viver como seres prontos para nos resignar. Marginais. Não por opção, mas por imposição de uma minoria que prefere se esquecer de onde está. Se quisermos um lugar melhor, precisamos começar a fazê-lo desde já. Deixando para trás essa papagaiada de que é fundamental para nossas crianças e jovens aprenderem desde cedo como o mundo lá fora continua a operar. Recorrendo sempre aos apelos do sucesso para melhor o justificar.
   Como se trabalhássemos numa ilha ou talvez numa nave espacial. Como se eles(as) não o vivenciassem. Como se o mercado fosse o nosso único referencial. Não sentissem todo esse peso para encontrar algum bem-estar. Aprendamos com eles(as)! Ouçamos o que eles(as) vivem a nos dizer: Chega deste mandonismo paranoico e vamos todos juntos nos emancipar! Construir nossa convivência a partir das relações, dentro das instituições que a gente faz!
   Por mais que se tente. Não há como deixar passar. Evitar de se indignar. Estranho seria a gente não estranhar. Como a escola vem sendo vista com algo alheio, distante, obrigatório por demais. Se fizéssemos realmente a nossa parte como educadores-transformadores não haveria graxa, cacos de vidro ou arame farpado nos muros que circundam a escola, muito menos seres humanos ocupando o espaço da biblioteca, como prisioneiros(as), fazendo cópias do regimento escolar, nem livros tidos como proibidos como se esse poder temporário que todos nós exercemos nos dê o direito de outro índex reinventar. Como se as inquisições fossem algo normal de se praticar. Proibindo-os de conhecer os assuntos que quiserem. Privando-os da oportunidade de da sua liberdade se responsabilizar. Expandir seus horizontes para agir com o mundo que, assim como a gente, vive somente porque dispõe da capacidade de mudar.