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21 de fevereiro de 2016

Assombrado

Trapézios vão
Trapézios vêm
Sem trapezistas
Dando piruetas utilizando a cama elástica

Nas arquibancadas
Nenhuma sobrancelha arqueada
Nenhuma pessoa feliz ou desapontada
Sequer os milhos de pipoca não estourados

Não há mais mágicas
Nem palhaçadas
Apenas um globo da morte reluzindo
E a serragem espalhada

Forrando o chão
Cobrindo todo o picadeiro
Sendo constantemente renovada
Por quem?! Em qual horário?!

Ninguém vê nada
Ninguém sabe de nada
O circo que ali foi mantado, todos dizem,
Há muito acabou abandonado

Próximo ao centro
Numa das ruas mais mal iluminadas da cidade
O que espanta é que suas estacas estejam tão firmes
Que a lona parece não ceder nem com a mais temível tempestade

Pelos bairros
Nenhum carro de som
Nenhum anúncio nas fachadas
Corre somente o boato

E o medo de chegar mais perto
E encontrar finalmente o responsável
Por manter o espaço sempre pronto
Para receber uma nova caravana que o leve junto

Para qualquer lugar
Onde ele possa continuar fazendo o seu trabalho
Recebendo, inclusive, um bom salário
Sem ter de ser confundido com um fantasma.

Trabalho

Formato deformado
Precioso artefato
Dividido em jornadas
Sustentando toda a engrenagem

Que, pelo seu lado, instrumentaliza
Engessa o seu significado
Fazendo do produtor direto
Uma coisa alheia ao produto acabado

Restando somente o dever do consumo
Parcelado e muito bem taxado
Como benefício concedido
Contrapartida necessária

Esquecendo que toda a força ofertada
Pode muito bem ser utilizada
Para conceber e pintar outros quadros
Onde produção, distribuição e recreação

Sejam por todos desfrutadas.