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31 de janeiro de 2023

brindes

presentes em demasia

expressam uma vontade

de demonstrar afeto

por um caminho genuíno


necessidades emocionais

desencontradas

movidas pela quantidade e qualidade

pelo que acham profícuo


resultados obtidos

para se vangloriarem junto aos outros

que lhe assopram

quando suas velas estão caídas.

30 de janeiro de 2023

Não estou a par das novidades

Da mais nova banda cover. Sua mais recente conquista. Dentre os mais sofisticados e cobiçados da cidade. De mais outro ponto imperdível de encontro. Ou das companhias que querem tudo. Mas não aceitam a reciprocidade. Não me importa a quanto andas. Seus progressos de homem civilizado. Nesse ponto. Gosto de ser um grande imprestável. Aprendi que o preço disso tudo. É a continuidade do famigerado hábito. O maior bem que podemos desenvolver e manter é a sensibilidade. Não as coisas que compramos para nos desfazermos. Movidos pelo apreço que nutrimos pela substituição neurotizada. Não me interessa o quanto digas. Brades ou ameaces. Não me ludibrio com a sanha da quantidade. Prefiro o suficiente. Nunca o nada. Ou o tudo. Divinizados. Não tolero os jogos. Procuro a simples. Frágil. Nossa imperfeita espontaneidade. Não me ligo aos reclames midiáticos. E sua constante produção de heróis e heroínas nacionais. O culto ao empreendedorismo enganoso. Ou à sua milionésima postagem impagável. Não me importa. Não quero estar a par desses bordões das trivialidades. Significativos. Sintomáticos. Mas... A mim basta uma vida. Não a eternidade.

28 de janeiro de 2023

premissa da exaustão

como estou além de todos os mortais

não preciso me submeter a nenhuma regra

de convivência social

respeito mútuo?!

confiança?!

responsabilidade pessoal?!

que tudo isso venha a mim

para os outros só o que me convém.

24 de janeiro de 2023

Bad Religion - Don't Sell Me Short

 
We don't need any more mountainsBecause the trail buildersFailed to give us passage thereSo we can't reach the sky
 We don't need any more failureThere is human tragedyThat's written everywhereAnd we are all too young to die
 Like a mystery that's here to staySome people never go away'cause they've got something to say
 Don't sell me short!You've been wrong too longDon't brush me offJust because I don't belongLike it or not I'm all you've got,Dispose when I'm shotJust don't sell me short I might not be who you thought
 We don't need any more fablesBecause the writers have passedAnd left us lessonlessAnd we must find our own way
 We don't need any more privilegeThere is vivid desperationThat is powerlessThat no surplus can repay
 Like the fix of rapture in a tranceOh, fates are sealed by circumstanceSo you've got to take a chance
 Don't sell me short!You've been wrong too longDon't brush me offJust because I don't belongPass me on by, ignore my cry,Forget me when I dieJust don't sell me short,Not while I'm still alive
 Everybody's talking about heaven on earth,I'm still trying to figure outJust what I'm worthI'm full of emotionAnd stuff you can't containAnd you just want toFlush me down the drainBut you can't make me go away
 
 Don't sell me short!You've been wrong too longDon't brush me offJust because I don't belongLike it or not I'm all you've got,Dispose when I'm shotJust don't sell me short I might not be who you thought.

20 de janeiro de 2023

surpreso

no meio do trânsito

vejo algumas borboletas

uma delas pousa em meu ombro

sem intenção ou interesse

precipitado

tiro uma conclusão

como se ela me entendesse

faça o que seu coração sugere

ele ainda está batendo?

você ainda sente?

11 de janeiro de 2023

coágulo

as bebidas as competições

a felicidade

a caridade os paraísos


isso é tudo o que conseguimos?


o que dizer do vazio

do esquecimento

que todo o tempo são perseguidos


inutilmente preenchidos?


da memória

que preferimos escamotear?

da negligência


tão intensa e amiga?


quando

ouviremos o que dizemos?

quanto arriscaremos


liberdade tão aflita?

4 de janeiro de 2023

Clarice Lispector

(…) A pessoa gasta muito da própria energia ao tentar ser igual a todo mundo.”


(…) Tanto sofrimento por estar, às vezes sem saber, à cata de prazeres… Não, antes o sofrimento legítimo que o prazer forçado.”


(…) O que é que uma pessoa diz à outra? Fora ‘como vai?’ Se desse a loucura da franqueza, que diriam as pessoas às outras?”


(…) Eu só sei em todas as circunstâncias ser íntima: por isso sou mais uma calada.”


(…) Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.”


(…) Peço a homens e mulheres que me considerem um ser humano digno de algum amor e de algum respeito. Peço a benção da vida.”


“… Amor será dar de presente um ao outro a própria solidão? Pois é a coisa mais última que se pode dar de si.”


(…) Ele era tão inútil. E queria me inutilizar também. Eu nunca deixo.”


Todos aqueles que fizeram grandes coisas, fizeram-nas para sair de uma dificuldade, de um beco sem saída.”


(…) O presente é a presença de uma para a outra.”


(…) Por pura sede de vida melhor estamos sempre à espera do extraordinário que talvez nos salve de uma vida contida.”


(…) Um animal jamais substitui uma coisa por outra, jamais sublima como nós somos forçados a fazer.”


(…) Eu não humanizo os bichos, acho que é uma ofensa – há que respeitar-lhes a natura – eu é que me animalizo.”


Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.”


Não tem pessoas que cosem para fora? Eu coso para dentro.”


Eu nunca pretendi assumir atitude de super intelectual. Eu nunca pretendi assumir atitude nenhuma. Levo uma vida corriqueira. Crio meus filhos. Cuido da casa. Gosto de ver meus amigos. O resto é mito.”


Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou o quê? Um quase tudo.”


Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário.”