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17 de junho de 2022

premente

é a busca

o questionamento

o resto

também vai se fazendo

com o tempo

a vivência

os desencontros

na convivência

vão se desenrolando

nos espaços que ocupamos

respostas seguem nascendo

perguntas crescem nos impulsionando.

talvez

tela aberta

no notebook

ideias alucinadas

pululam pelo corpo

possibilidades de sondá-las

aparecem e somem

talvez hoje

quem sabe algum dia

nalgum outro tempo

depende, submete-te

porventura você precisa

de toda essa pressa?

15 de junho de 2022

molho de algemas

celas e mais celas

grades e mais grades portões

raio x recolhimento dos pertences


a entrada supervisionada pelos agentes

estávamos apreensivos a principio

um pouco tensos


durante a conversa

olhares curiosos

alguns semblantes fechados

um Dostoiévski sobre a mesa


depois a música

blues surf music reggae

curtimos aqueles momentos


café da tarde compartilhado

com bolo feito a quatro mãos

um bate-papo entre açougueiros


literatura em movimento

expressão resistência

acolhimento autoconhecimento

gratidão por estarmos ali por inteiro.

14 de junho de 2022

aos que estão presentes

Shimamoto, Marcatti, Mutarelli

Huxley, Bad Brains, Pollock, João Pinheiro

Kafka, GOG, Clarice Lispector

Orwell, Basquiat, Pixies, Steinbeck


Kerouac, Camus, Planet Hemp

Swift, Bukowski, Sonic Youth, Lovecraft

Thoreau, Mukeka Di Rato, Dostoiévski

Poe, Kraftwerk, José Salles, The Clash


Tolstói, Da Vinci, Jimi Hendrix

Morphine, Kurosawa, R.A.T.M., Led Zeppelin

Arnaldo Antunes, Blues Etílicos, Laerte

Elza Soares, Ambulantes, Leminski, The Specials


Bob Dylan, Refused, Marcos Rey

Chico Science, Nação Zumbi, R.D.P., Motörhead

Mundo Livre, Bradbury, Silver Apples

Mark Twain, Angeli, Vonnegut, Helmet


Voodoo Glow Skulls, Rush, Proudhon, Rainbow

Alan Moore, Deep Purple, Crumb, H.G. Wells

Fernando Gonsales, Virginia Woolf, Sérgio Bianchi

Bad Religion, Racionais, Arendt, Minor Threat


Marcuse, Operation Ivy, Dead Kennedys

Ação Direita, Pennywise, Skatalites, Paulo Freire

Citizen Fish, Sociedade Armada, Pinheads

Sepultura, Infectious Grooves, Dead Fish, Ferréz


Beastie Boys, Guliver, NOFX

Tarantino, Cactus, Saramago, Kubrick

Cassandra Rios, Sonic Sex Panic, Poindexter

US3, Jack London, Mary Shelley, William Blake.

12 de junho de 2022

acenos

sobre a pretensão

fecha o cerco

não esmorece, no entanto

complementa o entendimento


envolvendo o cabide

há uma roupa de empréstimo

louco lunático

esquizofrênico


na mística do enquadramento

vislumbres e conceitos

obras acabadas

também são versões


pratos preparados

com ou sem pressa

contos desmembrados

arranjos nos cabelos.

11 de junho de 2022

Visitas

   Vez ou outra. Impactado pelo intercâmbio de reações químicas. Naturais ou induzidas. Desliza por uma terra repleta de clãs guerreando e trocando vivências diante dos desafios de uma floresta arquetípica. Pássaros cantando e fazendo seus ninhos. Mamutes sendo caçados. Dentes de sabre abocanhando-o quando o encontram desprevenido. Técnicas e tecnologias usadas para salvaguardar e atacar a sobrevida. Adentra um vilarejo. Cumprimenta moleiros. Surpreende-se com os ferreiros debatendo-se com seus serviços. Dia após dia. Quando as condições naturais assim o permitem. Vê camponesas benzendo-se na frente de uma fogueira cujas labaredas se encarregam de desfazer os corpos de algumas novas bruxas. Aquelas vizinhas tão prestativas. Observa as relações aí estabelecidas. Seguindo instintos de preservação e cooperação permeados pela vontade de se distinguir. Mediante a imposição de privilégios que alguns estamentos, por toda a eternidade, possam vir a usufruir. Vitrais nas catedrais. Indumentárias exclusivas. Visões de um demônio que tenta e desencaminha. Em contraste com as revelações de um deus que pune e executa para salvar o povo que julga sob a sua perspectiva. Sobe num automóvel e, através de suas janelas, vê os reflexos de uma cidade onde abundam letreiros e luzes que reforçam a percepção do progresso que dizem ter chegado, mas que ainda não foi capaz de conduzir as espécies a uma coexistência mais feliz. Seres hipertecnológicos. Repletos de inseguranças quando precisam se desvincilhar das armas, dos alimentos e do lixo radioativos. Especulação dos pseudo líderes mundiais com a tragédia coletiva. Políticos que prometem na mesma proporção em que consomem os povos nativos e suas sabedorias. O meio inteiro para assegurar a expropriação dos recursos coletivos. Transporta-se, assim, para os temidos mundos paralelos. E, sem se dar conta. Encontra um amontoado de portas que não lhe revelam nada além do que são. Passagens que se ramificam. Portais para outros labirintos. Regressa dessa imersão. Perplexo. Mas nada arredio. Dessas órbitas em que transita. Emerge no meio de uma multidão. Esfrega os cantos dos olhos. Junta-se aos fluxos e refluxos de muitas vidas coligidas. Dentro e fora de seus redutos perceptivos.

8 de junho de 2022

Transcendência/arte/monocromia

   Que ideia é essa de se ocupar com o impossível? Por que não segue simplesmente o seu destino? E tenta, como todo cidadão respeitado, ganhar a vida? Onde foi que aprendeu a acreditar nessa mentira? De que a arte apreende a realidade tal qual ela se mostra e se modifica? Símbolos representam, apresentam, mas também limitam. Nossa interação com o meio e com os outros mundos que a sobrevivência imediata não necessita. Então, por que insistir nessa sina? Precisa realmente expressar o que lhe atinge e lhe transcende, mesmo que os meios de que dispõe sejam tão pífios? A realidade lhe perpassa, lhe ultrapassa e você quer realizar-se de outro modo?! Estranho sujeito, eu diria! Achegar-se a um todo que, enquanto conceito, pensa ser provável, mas percebe e sabe ser incompreensível?! Diante de todos os desafios. Pode elencar somente algumas partes e, ainda assim, quer manter a convivência com esse todo fugidio? Vamos, me diga, o que acontece dentro desse ser que busca conhecer-se, conhecendo a realidade que o aprisiona nessa cela de onde desenha? Escreve. Toca. Se revira. E apenas às vezes participa?

5 de junho de 2022

Onírico

   Como um antílope. Ele corre. Por um cenário que vai se construindo. Onde luas e estrelas sussurram e continuam influindo. Olha para trás e visualiza uma savana. Vira-se para frente e encontra um deserto repleto de miragens. Querelas de um mundo de imagens refletidas. Clima, flora e fauna intercalando-se. Numa madrugada fria. Revira-se como quem é surpreendido. Por um sonho que precisa ser vivido. Para prosseguir desperto. Movimentava-se. Agindo e reagindo. Como fagulha. Não prescinde da matéria para continuar propagando-se até atingir o seu clímax. Sobrevoa. Rasteja. Como quem sente. A fusão dos espaços. Com a distopia dos tempos vividos e revividos. Depara-se com sons. Palavras. Quadrinhos. Poemas. Acordes estridentes. Perseguindo-o. Com fúria. Urgência de afetá-lo em cada partícula. Na procura por desvendar. Cria e recria. Tentativas para localizar os rastros. Dos predadores. Que o espreitam. Das frestas de um desejo. Que se metamorfoseia em vontade de ser repercutida. Assim, ele apura o olfato. Altera as perspectivas. Toca algumas superfícies. Para reconhecer o que o aflige. Acolhe. E talvez o abrigue.

3 de junho de 2022

embarcação

movido pelo medo

raiva autoaprovação desejo

de repente

depara-se com outros ventos

revolta amor lampejos

híbrido de passado e presente

para flanar pelos mares desertos

redirecionando suas velas

aprumando o casco

destravando-lhe o leme.