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14 de junho de 2014

Cansado sem sono

Folha em branco
Composição que vai começando
Assim sem tema, alma, admiração ou espanto
Apenas pelo prazer de ir se reinventando
Ouvindo músicas
Escrevinhando
Procurando por palavras que aos poucos foram significando
Relembrando de nossos encontros, acrescentando
Bebericando uma cerveja
Fumando
Enquanto muitos dormem
Talvez descansem
Para um novo dia que já vai se mostrando


Folha em branco
Calhamaços de arquivos que vou guardando
Idolatrias e prantos
Adultos e crianças
Triturando
Amassando
Dando forma a um conteúdo que sequer ficará pronto
Trágico fim para uma mistura que não deu ponto
Tráfego que vigora
Minutos de fúria em que mais algumas vidas se vão
Como formas nas paredes
Sombras que projetamos
Nas calçadas, ruas, muros e certezas que ultrapassamos


Folha em branco
Colorida por um ponto
Fracionamos todos os códigos de honra
Vagamos por dias e noites
Só por não termos com quem brincarmos de investigadores
Procurando por nossas peças que vão repentinamente chispando
Encontramos tabuleiros carcomidos
Tanto jogamos que agora nossos dedos são aqueles que respondem 
Nossos pulmões expelem a poeira
Mas a sujeira não deixa de estar presente em qualquer canto
Se lhe contasse uma fábula agora
Com todos os detalhes de um fato cotidiano
Você veria quais tentativas em meu sonho?

Esboços


Não vou dizer que quero só um pouco
Pois sei que meus desejos e minhas vontades nem sempre andam juntos
E que muitas vezes conciliá-los pode muito bem fugir ao meu controle
Não vou dizer que posso ser sempre justo
Pois sei que há muitos outros jeitos de estar e de representar-se junto e ao mundo
Não, não vou tentar o que eu não posso
Pois sei que convivo e que minha existência depende de muitos outros corpos
Que também querem, desejam, necessitam
Investem ou não um pouco de si mesmos em prol de algum convívio menos tosco

Não vou dizer que aceito só o gosto
Pois sei que lhe aprecio muito mais quando também ouço, vejo, toco
Sinto e penso que nossas afinidades e diferenças são como cheiros que trocamos
 Não, eu não espero vir a dizer que te amo por desgosto
Pois sei que o passado, apesar de presente, não tem como durar o tempo todo
Não vou dizer que quero só a sua amizade e que o resto possa deixar para depois
Não vou dizer que um beijo e um abraço não façam tanto
Após termos compartilhado alguns de nossos sonhos
Quando começamos a querer juntos

Não vou dizer que ficarei aqui numa boa, sem fazer nenhum esforço
Pois sei que utopias só se realizam quando se convertem em planos
Falíveis, passíveis assim de serem revistos tão logo os praticamos
Não vou dizer que com você serei feliz e pronto
Pois sei que nossos sentimentos e ideais mudam, passam
Confundem-se e se ramificam como brotos
Transformando-se ou extinguindo-se para que percebamos alguns outros
Sim, eu vou aceitar minhas contradições e paradoxos aqui neste esboço
Privilegiando, desprezando, esquecendo ou admitindo-me como animal humano.