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15 de dezembro de 2018

obra, artista e contexto

sentimos fome
sentimos sede
brincamos com o fogo
nos afastamos da terra

assistimos perplexos
às mudanças dos tempos

caçamos, pescamos
coletamos, plantamos
domesticamos a nós mesmos
até colhermos

tentativa e erro
imaginação com realidade

apreendemos, representamos
rememorando o vivido
conceitos sobrepujando conceitos
compreendemos do nosso jeito

sentimos os graves
interagimos com o meio

respondemos
inventando métodos
juntando os agudos
equalizando os médios

continuamos perseguindo
criando entre as erupções dos vulcões
e as contrações das geleiras.

10 de novembro de 2018

vítimas privilegiadas

constroem-se para estarem
constantemente ocupadas
preocupadas
não só com a indumentária
com o status e as posições realçadas
dispendendo tempo energia dinheiro
para parecerem como objetos
instrumentos a serem mostrados
animais a serem domados
por e para
as instituições responsáveis
por reduzir o peso do capital cultural
família religião mídias
direito e estado
todos juntos
além do discurso
das ações-reações
e de tudo que por não ser explícito
passa despercebido por nossos olhares.

2 de novembro de 2018

vencer ou se mover

seja o que quiser ser
aconteça o que acontecer
viva a vida

não espere a rocha estancar
o fóssil
vir catalogado até você

sente o vento
espaço-tempo
usa o hábito
que lhe convém

faça
saboreei

certeza
dos interstícios
todo mundo tem

vocação
para ceder
ocorra o que ocorrer?

15 de setembro de 2018

forças da paz

sol da manhã
música por toda parte
vocês por aqui

o que mais poderia
querer
além de existir

conseguir discernir
quem produz as guerras
e quem nelas morrem como algo vil?

embrutecer

engano
autoengano
falácia
unidade

compilado
forma exata
jeito certo
correspondência

o esperado.

10 de setembro de 2018

Filosofia Ubuntu

Num povoado da África, um antropólogo, durante estudos sobre os usos e costumes da tribo, propôs uma brincadeira às crianças. Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito e colocou debaixo de uma árvore. Então, ele chamou as crianças e propôs uma corrida até as guloseimas. Quem chegasse primeiro ficaria com o prêmio. Mas, para sua surpresa, quando ele disse já, todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore dos doces. Quando chegaram lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes. O antropólogo, então, perguntou por que elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ter ganho todos os doces. As crianças simplesmente responderam: 'Ubuntu. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”

9 de setembro de 2018

círculo

em seu centro
o pertencimento
em sua circunferência
os outros
a conexão
o universo.

sabotagem

conhece as ruas
os muros
as placas
e as faixas de pedestres

cumprimenta as mesas
os pratos
os talheres
e as inconfundíveis paredes

alegra-se por vê-los
interagir
ouvi-los
percorrê-los

tal como as rodovias
as muretas que dividem suas pistas
e os vários animais mortos
pelos quais passa

e já não sente nenhum afeto.

23 de agosto de 2018

robota

por que existem os personagens
os manequins
os avatares​?

muitos não querem morrer
emgessar-se num único inexistentente
alguns querem a liberdade de perder-se

além de pessoas mecanizadas
os próprios meios são criticados
por congelar uma imagem
que está longe de ser estática

manequins são construções
perspectivas escrutinações
máquinas condensam energias e ideias
então, por que tanto medo

tamanha exaltação?!

Ira! - É assim que me querem

anexos

quando queria
exigia para ontem
quando conseguia
sumia-lhe o horizonte

assim caminha
questiona
significa

sem ganhos ou perdas
apenas felicidade
nas brechas do sofrimento

sem fatalismos
sem desespero
um pouco de tudo e nada
convivendo entre os intermédios.

9 de julho de 2018

sideral ataque

troca as cordas
desfaz os estragos

ensaios constantes

tomam forma as histórias
começam a agir
os personagens

canções passadas
e repassadas

uma banda
buscando
sua identidade.

8 de julho de 2018

sem manual

sabia que haveria uma conexão
só não imaginava que surgiriam tantas baldeações
incomodava ter de passar por essas chateações

no entanto
quem pode prever o futuro
impedir que os corações tenham suas predileções?

precisava
incentivar a livre expressão

inspiração
chegou de supetão
não quis saber de lenga-lengas
expôs logo as suas condições:

escreva
toque
faça algo

senão
como chegar-se a si mesmo
mesmo que se queira refugiar-se na imprecisão?

7 de julho de 2018

arrepio

do seu jeito inusitado

vai rondando perscrutando

perseguindo

tempo paralisado

espaço indefinido

acompanhando melodias

expressando sentindo

boca palheta

dedos bocal

teclas ouvidos

corpos inteiros

captando difundindo

intensidade sons

uma canção dentro de outra canção

continua se descobrindo

despertando revivendo

estranhando entranhando-se

imiscuindo-se.

25 de maio de 2018

altar

o que parece não é
o que é não parece ser
o que está não pode ficar
o que passou persiste em voltar

pobres coitados
que só conseguem ir ou estagnar
conforme as ordens ou os mandamentos
que não chegam a interpelar

até onde você consegue chegar?
até que ponto, liberdade
sua consciência pode lhe alçar?

somente 2 polos
e 1 estrutura falida hão de lhe bastar?!

e quanto ao universo
às culturas
aos impérios decaídos
às diversas fontes de energia

às construções e desconstruções
implosões e explosões
entropias
que as suas crenças insistem em desconsiderar?

em nome do pai
do filho
e das vantagens que puderem levar!

desde então

nunca houve predestinação
o que há são perspectivas
combinações
possibilidades

escolhas que nos conduzem
a vários desvios
encruzilhadas
e a algumas resoluções

na lama, na areia
em águas rasas, profundas
rastejando-voando-andando
desenvolvendo, rechaçando ou aprimorando

hipóteses e teorias
técnicas e tecnologias
instinto-razão.

8 de maio de 2018

distante menina

          a leitura inspira a escrita
   e a escrita inspira a leitura

                           é uma necessidade
                     que a mantém perto
   da dinâmica da vida.

fanzine

palitava os dentes
pausa
poente
novo interlúdio
para uma HQ independente.

6 de maio de 2018

jogo limpo

cartas na mesa
banda surgindo

música
não é um pretexto.

3 de maio de 2018

querida

noite linda
frio na espinha

momentos inesquecíveis
dentro da livraria

lua cheia
luzes na retina

rodando por uma estrada
desconhecida.

28 de março de 2018

reflexo

entre os polos há nódulos
cistos fissuras incongruências
incertezas contradições
derivas que usualmente não vemos

talvez daí resulte
toda a ânsia
em estar de um lado estratégico

como um pelotão que arrasta e arrasa
tudo o que encontra pela frente
minando a passagem de outros anseios
que estão muito longe de estarem satisfeitos.

26 de março de 2018

entre outras coisas

sinergia
vínculo que acura
depura
destrona o tempo

diverte-se com a complacência
desembaraça o meio.

24 de março de 2018

tributo

escrevendo
dentro de trincheiras
ou nos alojamentos

sob as cobertas
à luz de vela
ou com uma lanterna

analisando o universo
reavaliando a posição do Sol
e da Terra

abrindo corpos humanos
cometendo o sacrilégio
observando o funcionamento dos órgãos
a comunicação entre os sistemas

tocando sem as pontas de dois dedos
adaptando-se, criando riffs,
gravando e apresentando-se
por toda parte que puderem

Salinger
Galileu
Da Vinci
Iommi

todos e todas
que sentem a necessidade de fazer algo
apesar dos toques de recolher
e das inquisições que se sucedem.

ufa!

que alívio poder respirar
em uma atmosfera onde o que predomina é o ar

que alívio poder encontrar
conviver e representar

que alívio poder ouvir
palavras de respeito
direcionadas a quem precisa aprender a se educar

que alívio poder conversar
tocar sentir imaginar
estar junto com o mar.

20 de março de 2018

in natura

A orquídea chamava:
- Venha, dona mariposa. Leve o meu pólen aonde você costuma ir. Em troca lhe deixo o néctar que você conseguir ingerir. Uma forma de agradecimento por fazer com que eu e a minha espécie possamos nos reproduzir.
- Obrigada, dona orquídea! Também lhe sou grata por nutrir a mim e aos meus que igualmente querem continuar por aqui.
Um casal de percevejos que estava por perto ouviu e disparou – assim que os dois conseguiram parar de rir:
- Ora... ora, então nós também não temos que subsistir?!
- Mas vocês não precisam de mim para se reproduzir! - revidou a orquídea, como se o seu argumento fosse capaz de os dissuadir.
- Não precisamos, mas também temos que nos alimentar; caso contrário, como iremos enfrentar nossos predadores e deixar nossos descendentes mais aptos para prosseguir?
Um morcego que passava por ali, ao ouvir o que lhe pareceu ser uma discussão, logo pousou para conferir. Não demorou muito e já estava a interagir:
- Certo, certo... o que vocês dizem é muito pertinente. A propósito, dona mariposa, eu também estava em busca de algo para digerir.

2 de março de 2018

advento

aqueles artistas
preparavam-se
sem pressa

o que estariam tramando
atrás daquela cortina fechada
enquanto víamos suas sombras moverem-se?

de repente
a surpresa

música
poesia
arte circense

nossa vida
em suspenso.

NOFX - Six Years On Dope

Face To Face - Bent But Not Broken

27 de fevereiro de 2018

Divertimento

A cena congela.
É o final. Mas também é o começo.
Para quem observa. Participa ou se lembra.
Criança interagindo com seus brinquedos.
Criando, tramando, mesclando personagens.
Pintando palavras. Escrevendo desenhos.

sentimentos

universais
espécie no conteúdo
especificidade na forma
de se expressarem
e de os compreendermos.

2 tempos

os dias
os meses
as estações dos anos

os prazos
as compras

as semanas
os finais de semana
as taxas de entregas

distantes do tempo
do universo.

8 de fevereiro de 2018

poema, poeminha, poemão

adoro te encontrar
desse jeito disperso
mas disposto
buscando outras aventuras
que podem lhe sugerir
novas inspirações

pronto para compartilhar
as suas impressões
sobre as colisões
a vontade de saber mais
ampliando seu horizonte de satisfações

navegando num mar de possibilidades
crescendo como algo em si
um fim para uma vida nova
que começa a cada instante
da sua criação.
                      (À Helena)