“...Meu
sonho era fundar uma escola em que os jovens pudessem estudar sem
aborrecer-se; em que fossem estimulados a formular problemas e a
discuti-los; uma escola em que ninguém precisaria dar atenção a
discussões indesejáveis em torno de questões desinteressantes; uma
escola em que não fosse preciso estudar com o único objetivo de
passar nos exames.” (Karl Popper)
É preciso afrontar. Reagir. Debater sem medo de nossas zonas de conforto abandonar. Desconstruir as velhas estruturas do período colonial ou do regime militar que ainda nos ameaçam quanto o que nos interessa é a formação do ser humano total. Capaz de constatar que a aceitação desta noção de harmonia imperturbável só tende a nos limitar. Iludindo-nos a ponto de mantermos os velhos hábitos como instâncias sagradas com as quais não devemos jamais nos ocupar.
É
desafiador encontrar. Dentro de uma escola. Dentro de uma família.
Em qualquer instituição que pode e deve ir além do simples
funcionar. Tantas propagandas reforçando a ideia de que não há
outras formas de ser. Ou de estar. Se basta olharmos além de nossos
preconceitos para nos defrontar com tantos seres, tantos outros
jeitos de contribuir para a nossa tão necessitada dinâmica social.
Já
fomos “visitados” por uma santa católica. Há orações em todos
os começos de períodos e até no início de algumas aulas de
alguns(as) professores(as) muito perspicazes em seus conteúdos, mas
que se equivocam quando chega a hora de praticá-los. Agora são as
famosas missões populares. Alertando sobre a necessidade de nossas
casas virem a visitar. Para o valor da sua fé nos ensinar. Seremos
vistos como pessoas ou simplesmente como seres passíveis de
arrebanhar? Não será essa mais uma forma de violência com a qual
já nos cansamos de suportar, apesar de todos os apelos para nos
categorizar como mais um povo cordial? Ou será que você também
concorda com essa estupidez de estado-laico-católico que muitos de
nós tivemos o desprazer de se ver anunciar?
Se
tivessem bom senso. Se ao menos estivessem certos de que também
podem errar. As leis não haveriam de ser a base sobre a qual nossas
ações deveriam se apoiar. No papel. Nos discursos. Nas situações
em que podem tirar algum proveito. Exigindo somente os seus direitos.
Dizem que querem uma sociedade democrática. Mas é só terem uma
oportunidade. Que toda a fachada de coerência começa a desabar.
Repito:
filas para meninos e meninas, hinos, medalhas, uniformes, etc. são
práticas totalmente desnecessárias. A não ser para manter a
estrutura que nos obriga a viver como seres prontos para nos
resignar. Marginais. Não por opção, mas por imposição de uma
minoria que prefere se esquecer de onde está. Se quisermos um lugar
melhor, precisamos começar a fazê-lo desde já. Deixando para trás
essa papagaiada de que é fundamental para nossas crianças e jovens
aprenderem desde cedo como o mundo lá fora continua a operar.
Recorrendo sempre aos apelos do sucesso para melhor o justificar.
Como
se trabalhássemos numa ilha ou talvez numa nave espacial. Como se
eles(as) não o vivenciassem. Como se o mercado fosse o nosso único
referencial. Não sentissem todo esse peso para encontrar algum
bem-estar. Aprendamos com eles(as)! Ouçamos o que eles(as) vivem a
nos dizer: Chega deste mandonismo paranoico e vamos todos juntos nos
emancipar! Construir nossa convivência a partir das relações,
dentro das instituições que a gente faz!
Por mais que se tente. Não há como deixar passar. Evitar de se
indignar. Estranho seria a gente não estranhar. Como a escola vem
sendo vista com algo alheio, distante, obrigatório por demais. Se
fizéssemos realmente a nossa parte como educadores-transformadores
não haveria graxa, cacos de vidro ou arame farpado nos muros que
circundam a escola, muito menos seres humanos ocupando o espaço da
biblioteca, como prisioneiros(as), fazendo cópias do regimento
escolar, nem livros tidos como proibidos como se esse poder
temporário que todos nós exercemos nos dê o direito de outro índex
reinventar. Como se as inquisições fossem algo normal de se
praticar. Proibindo-os de conhecer os assuntos que quiserem.
Privando-os da oportunidade de da sua liberdade se responsabilizar.
Expandir seus horizontes para agir com o mundo que, assim como a
gente, vive somente porque dispõe da capacidade de mudar.
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