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18 de fevereiro de 2011

Ode à cidade


Um brinde aos alarmes que disparam. À fumaça que sobe e aos animais que morrem. Aos furtos diários e às festas de caridade. A todas as ciladas da pós-modernidade. À água desperdiçada. À juventude insegura e que só reproduz a nossa inutilidade. Confusa. Irritada. Agressiva quando não notam sua vaidade. Um brinde aos copos quebrados. Aos brindes bradados. Ao dinheiro suado e às oportunidades desperdiçadas. Aos homens e às mulheres de fardas. Aos sex shops e a todas as parafernálias do gozo. Às velas acesas e às experiências que viram piadas. A todas as ações movidas pela culpa e justificadas pela desculpa. Um brinde especial a todas as indenizações por sofrimento. Aos seqüestros e estupros. À nossa necessidade de afirmação. Sedução que não se esquece de ser tudo menos verdadeira. Às falhas da interação. Competição. Aprendizado. Às cobaias que sabem e sentem. Aos amores traídos e aos fones quebrados. Ao nosso culto pela originalidade. Um brinde a todos os músculos definidos e aos seios empinados. A todas as nossas medalhas e troféus. Aos nossos fetiches e festividades. Um brinde aos bares, aos encontros casuais e à solidão das manhãs de ressaca. Às praias lotadas e tidas como símbolos da felicidade. Às impressoras que travam e às pessoas que choram. Desiludidas. Marcadas. Encaixotadas. Mas que não desistem e cometem novas cagadas. Que levantam questões complexas, mas que não sabem lidar com a simplicidade, quando só têm a sua história para narrar. Às pontes de safena e às quimioterapias. Aos esqueletos que doem e aos corpos carbonizados. Aos asilos, presídios e manicômios que atestam a nossa luminosidade. À nossa vida, enfim, recheada de dissimulação e guerras. Frutos do êxodo de uma humanidade fadada à prosperidade.

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