Páginas

17 de fevereiro de 2011

A incrível aldeia dos objetos prepotentes


Eu não me lembro bem quando tudo isso começou. Tudo o que sei é que nossas vidas se firmaram de um encontro intencional e que nessa perspectiva todos nós acabamos tendo o conforto de que necessitamos. O fato é que o tempo foi se tornando cada vez mais curto e nós tivemos que nos programar. Organizar nossos planos e planejar nossas ações. Imprimiram-nos códigos de barra, números de lotes e datas de validade. Agora, somos dotados de belezas inúteis. Diferimos em formato, mas nossos manuais são muito semelhantes. Tornamo-nos importantes. Essenciais. Acessíveis para alguns. Desejados por muitos. Presentes e lembranças para todos aqueles que não têm e não sabem como viver desocupados. Nossos progenitores se reproduzem com muita facilidade e sem o menor sentimento. Nossa existência, por esse lado, é muito efêmera. E nós pouco nos importamos. Somos impelidos a nos considerar como únicos. Especiais. E é com muita felicidade que nós nos mostramos em qualquer vitrine. Bem ali, na crista da onda que você quer pegar. É incrível! Aterrador! Fantástico como só nós podemos ser. Repare que não falo só por mim. É que muitos iguais levam a mesma vida e são tão desprezíveis que eu não posso deixar de sentir enjôo frente a tantas bestialidades. São triviais. Fúteis. Eu não. Fui projetado para ser a última sensação. O néctar do mercado. O apelo e a cantada irrecusáveis. Mas, apesar de ter sido educado, sou mais eu. Tenho aqui comigo todo o sabor de uma novidade. Quero mais é me esbaldar. Andar de cabeça erguida. Festejar. Viajar! Viajar! Conhecer todos os lugares. Expandir meus horizontes. Custe o que custar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário