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17 de fevereiro de 2011

Distinção?!

Escrevo porque não tenho outra forma ou conteúdo para me expressar. Porque não encontro disposição nos ouvintes e consistência nos falantes. Porque tenho a sensação de estar convivendo com pessoas que vivem se dando o luxo de não usufruir de nossas capacidades sensitivas ou racionais. Escrevo porque fiz uma escolha de vida – sou mais um tolo que acredita em princípios – e pago um preço por isso todo dia. Porque sinto uma ansiedade filha da puta que faz, dentre outras coisas, minhas mãos e meus pés suarem frio nos dias mais quentes ou mais frios. Porque ainda me espanta a conformidade e o marasmo com que muitos se satisfazem, justificando seus atos pelo recurso do perdão divino. Escrevo como método para resguardar o mínimo de minha dignidade. Porque não há nada que me faça esquecer essa merda de vazio dentro do meu peito destruído pelo cigarro. Porque sinto que minhas forças se esvaem, que minha esperança (reparou como sou anacrônico?) se transformou em melancolia. Escrevo porque percebo que – apesar da aparência de vivo – me sinto um bom pouco morto por dentro. Não vejo mais sentido em quase nada deste mundo e sempre me senti impelido a me sentir grato por estar imerso em carne e sangue. Escrevo como fuga, refúgio, como alternativa, busca ou questionamento, enfim, como um meio de descer aos abismos, encontrar meus demônios e estabelecer as conexões. Porque os olhos ganharam o brilho do impessoal, os ouvidos já se cansaram de ouvir tantas asneiras e porque a fala se extinguiu quase por completo. Escrevo porque a música causa um tremendo alvoroço. Porque há alguns livros, CDs, peças de teatro e shows que gostaria sinceramente de assistir, ler, ouvir e até participar. E, sobretudo, porque quando estou escrevendo não me sinto nem um pouco especial. É que essa espécie de esquizofrenia vai se tornando vital.

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