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17 de fevereiro de 2011

O disfarce

Eu estou vestido de mim mesmo. Essas festas à fantasia nunca me empolgaram. Todas essas pessoas... O que estarão pensando? O que estarão sugerindo aos seus sentimentos? Eu sou uma lata velha. Um motor envenenado conjugado com uma premissa vaga. Um trem em desuso. O verbo incomum que não quer aparecer. Não procuro instrução. Já é tarde demais para qualquer espécie de combustão. Desde quando essa coleção de conhecimentos contribui para a felicidade? Se a imensa maioria dos sábios só quer saber para mostrar que sabe, eu, que sou tão tolo, só espero divagar. Brincar com as palavras. Enquanto ainda é tempo. Além do mais, eu só estou fazendo o que quero fazer. Privilégio?! Acaso?! Ou será escolha? De que tocaia espreita essa ansiedade? Essa inquietação que não poupa sinceridade e que por mais que eu me esconda me mantém tão próximo de mim mesmo? De que trincheira surge essa angústia? Esse misto de medo e de esperança que me mantém preso, subserviente até em meus sonhos? Essa vontade ingênua de sentir além da personalidade e das futilidades que nós mesmos somos impelidos a dizer que gostamos para ter referências? Será que ainda posso encontrar essas respostas no fundo daqueles olhos que me refletiram sem pesar e sem me comparar? Ou será que aquelas mãos que me tocaram sem interesse, poderiam me mostrar? Que espécie de antena capta minhas emoções e as retransmite aos meus semelhantes? Que espécie de lar abriga minhas imperfeições e as conduz até o jugo de minha consciência? Com que tipo de letra eu tenho que preencher minhas cartas de apresentação para o conselho dos homens letrados que escrevem e discursam tão bem sobre a liberdade, mas que contratam e exploram seus serviçais? Se tivermos à nossa frente mediocridade que chega e vai além dos horários nobres, nossa experiência tende necessariamente a ser medíocre? A animação está no ar. Mas eu não posso senti-la. Todos os rostos são cinza. Os trajes são rançosos. E todas as conversas que eu ouço não são nem um pouco empolgantes. Sinceramente, estou pouco ligando. Divirto-me aqui sentado. Procurando dar continuidade à minha necessidade de escrever. Para me manter vivo. Disfarçado.

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