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18 de fevereiro de 2011

Após o funeral


As portas se abriram e a chuva caía despreocupada. Os cadeados foram trancados e as chaves escondidas em um local inimaginável. As folhas se espalharam e o cheiro da relva era sublime. O vento soprava forte e as notas acabaram supostas de imediato. Os seres rastejavam. As imagens acabaram distorcidas e muitos conceitos foram inventados. O frio e o calor angariavam seus discípulos e as crianças se precipitaram a crescer tão rapidamente que se esqueceram de ser ingênuas. As ondas demandavam atenção e respeito-mútuo. Os seres só queriam se diferenciar. As lições e as explicações eram confusas, nebulosas pela ausência de imaginação, leitura e um pouco de direção. Os barcos acabaram se perdendo e os predadores ficaram muito mais que felizes. Os seres sabiam muito bem o que fazer com suas inquietações. Lançaram-se às melodias extasiantes. Os ditos animais foram recrutados para ajudar e entreter. Apesar de seus sentidos, os seres foram mais uma vez racionais. Os olhos tornaram-se vazios e os espíritos embotados. Recorrentes em suas buscas. Os adornos se revelaram patentes. Imprescindíveis.  Os seres acabaram adestrados e seguiam religiosamente seus pais em todos os pormenores.  As personalidades adoraram as novidades. Estavam mais do que ansiosas para se mutilar legalmente. Os seres, hoje, estão mortos. Suas experiências são o fim último de toda e qualquer existência. Repletos de histórias que se vangloriam em narrar, iludidos que estão com seus sentimentos suplantados. Os seres cativos orgulham-se, e, felizmente, não têm como voltar atrás; caso contrário, fariam ainda pior, entusiasmados com a idéia de estarem maturando-se para serem o que são. Estarem como estão. Sepultados sob os escombros de suas próprias impressões.

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