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17 de fevereiro de 2011

Faz-de-conta

 Que as guerras civis ou militares almejem abrandar o sofrimento. Que o progresso e a civilização transformem os seres em totalidades. Que endossar um modo de vida, legitimar um padrão de comportamento, não implique em degradação. Que apontar o dedo para os outros nos alivie da culpa por não sabermos lidar com nós mesmos. Que um carro, uma casa, uma criadagem ou mesmo um (a) amante nos torne felizes de verdade. Que um presente, um jantar ou um passeio luxuoso compense a ausência de uma conversa sincera, de um abraço ou de um beijo em quem se ama. Que o corre-corre, o stress nosso de cada dia, as frustrações ou as mágoas justifiquem toda a nossa agressividade. Que a sensibilidade, a confiança e o respeito-mútuo sejam trivialidades desse espetáculo. Que a cumplicidade e a partilha não revolucionem nossa intimidade. Que o fazer-de-conta possibilite – ao menos por uns poucos instantes – nos sentirmos plenos e realizados.

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