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18 de fevereiro de 2011

Troca de prontuários


Foi-se o tempo de paz em mais outro lugar para mim. Não sei se entendo bem o que está havendo, mas me sinto como se estivesse caindo e só me restasse um pára-quedas imaginário para me agarrar. Como se desenrolasse o carretel, só me embaraçasse com a linha, e, por fim, encontrasse apenas prismas paliativos para raciocinar. Há um brilho longínquo no limiar dessa escuridão. Eu não o vejo, mas sei que ele existe, pois me lembro bem quando o deixei vagando por lá. Há uma chama insegura que é a principal responsável por essa obscuridade. E eu ainda insisto que o bastante anda muito devagar. Eu estou alegre por estar vivo. Sei que tive um de meus ataques de novo, e, como estou todo ensopado, sei também que alguém me jogou pelo menos um balde de água fria para me fazer parar de urrar e de me debater. Isso tem deixado todos loucos por aqui! Assim como eu, ninguém sabe como lidar. O fato é que eu tenho sonhado com um grande enxame de abelhas mortas me observando dentro desse quarto. Parece estranho, não? Essa realidade jamais me abandona, porque, quando estou “apagado”, vejo que essas abelhas são totalmente indiferentes. Sequer existem! E isso é horrível, porque – esqueci de lhes dizer – fui eu mesmo que me internei nesse lugar. Precisava me reciclar. Simplesmente me enchi de conviver com todos aqueles normais. Eles foram longe demais! Bombardearam-me com seus projéteis de egoísmo fraternal. No começo, tentei compreender, saber quais motivos os faziam agir, pensar e sentir assim, mas eles fingiam. Somente alguns conseguiam abdicar. Eu simplesmente cansei de ser repetitivo. Como se sentiam ameaçados! Sempre tão tensos e fugidios! Arrecadando novos dízimos para se individualizar. Talvez por isso eu tenha me surpreendido tanto por aqui. Raspado tanto minhas unhas pelas paredes. Procurado uma saída nesse lugar repleto de aberrações que não temem ser explícitas. Talvez por isso eu tenha desenhado em meu corpo com uma navalha por dias a fio. Tenha me permitido ouvir as vozes que vocês dizem vir do além. Talvez por isso eu tenha me arriscado tanto, ouvindo livros e lendo discos desde criança. Espero que não me punam com choques elétricos ou dobrem a dosagem dos meus medicamentos. Isso jamais foi ajudar! Eu só estou tentando – e – temo não estar conseguindo, lhes dizer que continuo não me integrando. O único empecilho tem sido essa forma de me comunicar: tendo espasmos e vendo a vida se apagar e se acender pelo menos uma vez ao dia. Ela é tudo que restou para me expressar.

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