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13 de fevereiro de 2011

Lado b

Tinha um ar perdido. Provavelmente encarava os seus sentimentos como medíocres. Mas, afinal, o que temer no mundo das normalidades? Se tivesse um mínimo de conhecimento sobre si mesmo e alguma leitura de mundo, seria o momento exato para colocá-los em prática. Mas... O que fazia ali?  Por que passou por todas aquelas pessoas e simplesmente abaixou sua cabeça? Por que estava vestido daquele jeito? Sentia-se vazio, mas isso não chegava a ser o pior: havia um conglomerado de lembranças que ele não conseguia encarar, pois lhe causavam um misto de repugnância e melancolia. Mas, elas estavam ali. Latentes. Prontas para explodir. Sentia medo das sensações que viriam se apossar de seu atual estado de discernimento. E o levariam para onde? Com qual finalidade? Mas o fato era que ele estava ali. Prostrado. Fazendo parte da paisagem. Daqueles degraus. Daquelas trilhas. Daquelas pedras. Daquele lugar conhecido como Morro do Cristo. Não sabia mais como narrar os acontecimentos de sua vida. Tinha vontade de se expressar para os cachorros da rua, as latas de lixo, as placas de aluga-se e os copos de conhaque vazios. Sabia que havia ido longe demais. Que não deveria ter dado tanta atenção e espaço à sua desilusão. Não que isso lhe obrigasse a olhar debaixo de sua cama toda vez que fosse se deitar ou que temesse que as portas de sua casa se abrissem sozinhas. Nada disso! Quanto isso lhe afetava? Dormia tranqüilo? Aquelas crianças não queriam passar o seu tempo tentando chegar às mesmas opiniões. Não eram desiguais. Divertiam-se, humanizando. Já não buscava consolo. Desejava uma catarse, uma colisão de espíritos. Não conseguia divisar contradição nem conciliação entre os fatos. O que esperar, então? Tédio? Eram 3 horas da tarde e ele estava lá. Olhando as ondas se chocarem contra as pedras. Insana introspecção. Limbo. Aguardando a noite descer pelo céu. Ilhas. Alguns surfistas. Dois barcos. Pescadores que usualmente não estariam em alto mar. Suas têmporas já estariam estalando em outro lugar. Música. Notas musicais. Algumas morrendo para que outras pudessem nascer e assim brincar com as melodias. Inquietação. Resolve voltar para o seu ex-lar. Escadas. Tem um cigarro? – perguntou uma garota que também estava por lá. Olhos vermelhos e algumas lágrimas que não queriam se mostrar. Ele estende o maço quase vazio.  Ela agradece. Escadas. Areia. Som das ondas...

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