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13 de fevereiro de 2011

Fruto do mundo

Eu sou a idéia que não se concretiza
O instrumento dissonante
O sol que não reflete
A melodia que jamais será transcrita

A ideologia que nos molda
O amigo que não consegue se desprender do próprio umbigo
O parente que não considero
Um imbecil que nunca despertará

Eu sou fruto do iluminismo
Um dos muitos parasitas respeitados
A flor que desconsidera a primavera
A erva daninha em suas explanações

O poeta que nunca escreveu uma linha
A chuva desprovida de piedade
A satisfação materializada
A ausência absoluta de cultura

Eu sou a dúvida elevada à milésima potência
A comunicação expandida pela futilidade
As palavras desconexas, a identidade fragmentada,
O delírio compulsivo e a ânsia pelo poder

O desejo pelo pertencimento
A coletividade fadada ao esfacelamento
A criança crescida e totalmente sem criatividade
Um pária que dorme sob as marquises do luxo institucionalizado

Eu sou a ferida que não cicatriza
O status quo que se fez necessário
As potencialidades reduzidas
O ódio que nem mesmo em sonho termina.

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