É incrível a velocidade em que são propagadas novas necessidades por aqui. E é ainda mais incrível como muitos se deixam seduzir por esses apelos. Os seres humanos sentem-se especiais com seus novos empréstimos e crediários, os quais, muitas vezes, passam a ser os seus objetivos, as suas metas, seus principais vínculos com a Terra. Profundamente gratos, correm sempre excitados à procura de novos kits – símbolos infalíveis de sua prosperidade e aceitação junto ao meio ao qual vivem. Enfrentam congestionamentos e constrangimentos tentando fugir da brutalidade das multidões, principalmente a dos mendigos e das crianças que estão tentando não morrer de fome ou de falta de esperança. Mas, conforme já lhes disse, os humanos são muito fortes, superam-se de qualquer choque e – recompostos – chegam às lojas, aos shoppings centers que melhor lhes mascarem, quero dizer, lhes agradem os olhos e a alma. Fatalismo e utilitarismo desfilam sempre de mãos dadas nas passarelas e trocadores dessas lojas e, assim, as cobaias, ou melhor, os humanos, acabam cedendo, compactuando e se tornado ainda mais medíocres do que já são. Compram como uma forma de se punir por não possuírem os atributos de uma perfeição irrealizável. Ao invés de transcenderem, regridem, transformando-se em seres permutáveis – como seus interesses e anseios. Legitimam as sociedades das aparências e as instituições cascas. Refletem os lugares-comuns. Desprezam séculos de história e tampouco se importam com as suas próprias memórias. Jogam o jogo simplesmente porque é mais cômodo, demanda menos envolvimento e o desgaste é bem menor do que assumir as responsabilidades por suas escolhas. Preferem acreditar em destino e providência. O caminho deve ser sempre o mais fácil, o já trilhado e universalmente aceito como único. A lei do menor esforço e do menos pensar. Afinal, segundo eles mesmos dizem, é só deixar rolar. E eu completo: e se vangloriar pelo que é efêmero. O velho sempre com uma nova embalagem e menor qualidade. Mas, tudo bem, afinal, o que buscam é a satisfação de seus caprichos e o aperfeiçoamento de suas vaidades. Daí a necessidade crescente de novas válvulas de escape para suportarem suas dores, aquela leve, porém insistente, sensação de estarem mortos por dentro – como também já lhes falei no meu último contato.
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