Calma, meu amigo. Sua frustração, neste
momento de angústia, pode ser o raio que – partindo do seu próprio aparato
defensivo – o paralisa. Assim como você, muitos de nós fomos instruídos a agir
como se fôssemos invencíveis. Que, se algo nos contraria, se alguém pede
socorro, basta vestirmos nossos uniformes e, usando nossos superpoderes, mudarmos
nossos destinos. Contribuindo para que a Justiça se faça sempre e nos beneficie.
Em qualquer território. Planetas, galáxias, satélites, asteroides, cometas. Visíveis
ou invisíveis. Imagine viver num mundo indiferente aos nossos caprichos. Aos
nossos desejos e aos nossos mais Belos princípios. Inconcebível, não é isto o que
lhe sugere seu raciocínio? Seríamos tal como pedras que sofrem caladas a cada
nova investida desta natureza que também nos habita? Seríamos nós, construtores
incansáveis de nossa própria História, manchetes de jornais, capas de revistas,
matérias destacadas das redes sociais e televisivas, sujeitos passivos – tal como nos
notifica nossa impressão fatalista? Refugiaremos-nos toda vez que nos sentirmos
ameaçados em nossa fragilidade deveras autopunitiva? Não somos, então, seres
evoluídos?! Acima da média, que reconhecem e buscam todo o tempo superar
qualquer limite? Gravidade, eletromagnetismo: não são estas algumas das forças
frente às quais reafirmamos nossos mais que legítimos altruísmos?! Ora, meu
amigo, não fique tão triste! Estou apenas tentando desconstruí-lo. Mostrando
que ainda seremos nós mesmos, mesmo quando o mundo resolver nos abolir. Nosso
egoísmo há muito assola os imaginários coletivos e é até compreensível que um
dia estes terráqueos mortais resolvam revoltar-se, manifestarem-se, achando que
nós abusamos de suas ingenuidades para nos afirmarmos como mitos. Vencemos
nossos arqui-inimigos às vezes a duras penas, mas devemos reconhecer que, quando
assumimos nossas reais identidades, não passamos de seres à mercê de ajuda
mútua num mundo hostil, mesmo quando estamos em posse de tantas tecnologias.
Não é mais fato que a Ideia do Bem invariavelmente derrote e subjugue os
maiores e mais temíveis propagadores do Crime. Reconheçamos: uma simples chuva,
um terremoto, qualquer cataclismo, a mais amena mudança de clima nos afeta
tanto que é quase provável que nossa autoestima um dia associará essa projeção
que fazemos para tentarmos simplesmente fugir. Mesmo nos debatendo, há muitas
forças, dentro de nós mesmos, que nos dominam.
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