Lembrança
da minha juventude
A
minha ama de leite Guilhermina
Furtava
as moedas que o Doutor me dava.
Sinhá-Mocinha,
minha Mãe, ralhava...
Via
naquilo minha própria ruína!
Minha
ama, então, hipócrita, afetava
Susceptibilidades
de menina:
“– Não,
não fora ela! –“ E maldizia a sina,
Que
ela absolutamente não furtava.
Vejo,
entretanto, agora, em minha cama,
Que
a mim somente cabe o furto feito...
Tu
só furtaste a moeda, o oito, que brilha...
Furtaste
a moeda só, mas eu, minha ama,
Eu
furtei mais, porque furtei o peito
Que
dava leite para a tua filha!
Versos
íntimos
Vês?!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro
de tua última quimera.
Somente
a Ingratidão – esta pantera –
Foi
tua companheira inseparável!
Acostuma-te
à lama que te espera!
O
Homem, que, nesta terra miserável,
Mora,
entre feras, sente inevitável
Necessidade
de também ser fera.
Toma
um fósforo. Acende teu cigarro!
O
beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A
mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se
a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja
essa mão vil que te afaga,
Escarra
nessa boca que te beija!
À
mesa
Cedo
à sofreguidão do estômago.
É
a hora
De
comer. Coisa hedionda! Corro.
E
agora,
Antegozando
a ensanguentada presa,
Rodeada
pelas moscas repugnantes,
Para
comer meus próprios semelhantes
Eis-me
sentado à mesa.
Como
porções de carne morta... Ai!
Como
Os
que, como eu, têm carne, com este assomo
Que
a espécie humana em comer carne tem!...
Como!
E pois que a Razão me não reprime,
Possa
a terra vingar-se do meu crime
Comendo-me
também.
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