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2 de junho de 2013

Muito bem, Carolina!

Percebi na favela algumas atitudes que vão além da simples resistência propagada pela elite intelectualizada. Percebi coragem. Vontade de juntar a maioria que é marginalizada, inclusive por esse privilégio que é esta educação mercantilizada, e fazer aquilo tudo que muitos já desacreditaram. Escutei de pessoas muito mal acostumadas com suas vantagens diárias palavras como caridade, empatia, senso de responsabilidade, mas quando perguntadas se conseguiam se colocar no lugar do outro, diziam que não. Que isto é muito difícil de ser concretizado. Teorias que doutrinam. Discursos sobre discursos esvaziados. Repletos da inércia de uma classe bem assistida pela política monetária. Atitudes que não podem ser praticadas?! Oh, vã ilusão de interferir na realidade desse jeito tão profissionalizado. Percebi que as oportunidades que não são conquistadas, carecem de dignidade. Que um simples prato de comida num quarto de despejo é bem mais saboroso do que os que nos envenenam nas redes de restaurantes mais conceituadas. Desperdiça-se assim o que poderia ser a base para a construção de virtudes essenciais para o questionamento, para o cumprimento das promessas que as autoridades afirmam, senão realizadas, pelo menos em vias de entrar em plenária. Percebi e ainda percebo que aqueles que têm mais chances pensam que são merecedores de seu sucesso pessoal, deixando cada vez mais de lado em suas análises o bem social que eles mesmos fazem deplorável. Não nego que o pessoal deva ser cada vez mais respeitado (para decidirmos e não sermos conduzidos como gado); no entanto, só faremos algo quando constrangidos por um castigo ou impulsionados por um prêmio invejável? Só convivemos porque outros nos cuidaram! Achando-se muito importantes por desfrutarem do trabalho miserável da maioria que precisa e ainda há de ser bem melhor preparada. Para competir de igual pra igual com a ajuda paternal de cotas e auxílios vexatórios. Paliativos para um problema cujas causas, para serem claras, precisam sempre de novos dados?! Crianças precisam de respeito e não de uma família, de uma escola, de um estado que tem como fim sufocá-las. Muito mais que palavras, esta minha percepção me levou a me juntar um pouco mais. Pois não é meu salário que me dignifica e muito menos as coisas que eu consigo, a partir dele, comprá-las. Não é meu diploma e muito menos minhas “vitórias” neste mundo da insana competitividade. Nossas potencialidades se desenvolvem com menos luta em um meio onde haja segurança, carinho, cuidado, amor, reciprocidade. Nossa autonomia, nosso reconhecimento de nossas responsabilidades cósmicas se realizam quando se associam a outras potencialidades. Os diários da sua vida me ajudaram a perceber que da lama, do barro, nascem dignidades que, no conforto exagerado, muitas vezes sequer são notadas.

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