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26 de junho de 2013

Sensatez

Era uma personagem com um estado de espírito crítico. Afeita ao diálogo. Convidativa. Hoje, minha impressão é a de que estava um pouco triste por estar triste. Introspectiva. Confusa, assim como todos nós muitas vezes nos descobrimos – quando temos que representar a nós mesmos nos cenários da vida. Um esboço omitido que tanto aguardara para ser exibido. Em nossas geniais galerias. Sobre o quê, como, por que fazia, e que talvez, enquanto respostas definitivas, nunca lhe contentariam. Satisfazia-se tanto quanto nós procuramos e só algumas vezes nos encontramos reconhecidos. Em si, nos “outros”, em qualquer elemento que também se transforma. Todos os dias. Quer a gente discorde, quer estes elementos sequer desconfiem. Por que, afinal, tinha de ser sempre do jeito que os outros queriam?! Conhecia algumas das companhias. Porque tinha de ser assim, ora! Não era assim que se fazia?! Procurar a felicidade onde o sofrimento não exista?! Provavelmente se revoltava quando, no teatro vazio, como num deja vu, só mergulhasse até onde alcançava os olhares dos salva-vidas. Envolvida pela superfície. Longe do script. Do texto pronto. A passagem das falas. Não mais lhe iludia. Inferia que – apesar de tudo – a espécie à qual pertencia, seria a mais relevante personagem com quem contracenaria. Dentro de si, por acaso, também não havia dessa vontade de não ser extinta?! Dessa luta pela sobrevivência que se trava em nossos espaços mais íntimos?! Sensatez me inspirava coragem. Desprendimento. Admitia que não dispunha de qualquer certeza se atuava ou não sobre palcos tão firmes. Que – apesar de não ser sua vontade – também sofria. Tal como nosso sentimento de alegria.
  ____
   Para ___


         {…Rafaela, Schopenhauer, Helena Kolody, Goethe, Nietzsche, Van Gogh…}

Um comentário:

  1. Saudações Thiago!! tudo bem?
    esse texto é o meu preferido, tenho ele.
    incrível seu dom pra escrever....
    todos textos são ótimos!!!!
    Parabéns...

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