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27 de junho de 2013

Poemas órfãos

Há alguns dias ouvi algo como o som de palmas que se encontravam bem na frente do meu portão. Da janela do quarto, espiei, recuei. Fui até a porta e constatei. Lá estava um oficial de justiça que, após certificar-se de que eu era eu mesmo, graças a minha confirmação, entregou-me uma intimação. Um poema reclamava a sua filiação. Dentre outras coisas, eu era o responsável por ele não conseguir achar o melhor caminho para a sua realização. Acusava-me de tê-lo abandonado. Sem qualquer lembrança que o ajudasse. Sem qualquer indício de onde pudesse correr e recorrer quando se sentisse sem orientação. Senti-me num impasse. Então, a minha escolha de deixá-lo sozinho, não foi o melhor incentivo para a sua emancipação?! Não queria forçá-lo a nada. Não queria que a minha influência o sufocasse. Você não vê que tive razão? Temia que se o privilegiasse, ele acabasse como muitos desses poemas que se acham melhores só porque têm um apelo que lhes destacam para a população. Fiquei intrigado com o desespero demonstrado por esse feto ancião. Posto no mundo e lançado fora. Tão logo se mostrou confuso. Mais uma aberração. Acusava-me de desprezo. De perfeccionismo. Apontava-me como alguém que se destaca pela falta de compromisso. Compaixão! Tormento para todos os séculos. Que habitam os meus nervos! E quanto aos outros que eu também dobrei, amassei, atire e os juntei para que partissem e se decompusessem no lixão? Imaginem se todos resolverem reivindicar o mesmo! Pouso, repouso, carinho, direitos! Será que terei como mantê-los? O que mais se espera de um pai, nestes tempos? Aguardo ansioso por este desfecho. Posso me tornar culpado por querer que eles façam os seus próprios progressos? Com um pai a distância não conseguiriam ser poemas inteiros? Desconfio dos que dizem que sabem interpretar as leis. Que são mestres em se manterem neutros. Eu só quero ficar no meu canto. Não tirem o meu sossego! Espero que não me obriguem a vê-los...

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