Há alguns dias ouvi algo como o som de palmas
que se encontravam bem na frente do meu portão. Da janela do quarto, espiei,
recuei. Fui até a porta e constatei. Lá estava um oficial de justiça que, após
certificar-se de que eu era eu mesmo, graças a minha confirmação, entregou-me uma
intimação. Um poema reclamava a sua filiação. Dentre outras coisas, eu era o
responsável por ele não conseguir achar o melhor caminho para a sua realização.
Acusava-me de tê-lo abandonado. Sem qualquer lembrança que o ajudasse. Sem
qualquer indício de onde pudesse correr e recorrer quando se sentisse sem
orientação. Senti-me num impasse. Então, a minha escolha de deixá-lo sozinho,
não foi o melhor incentivo para a sua emancipação?! Não queria
forçá-lo a nada. Não queria que a minha influência o sufocasse. Você não vê que
tive razão? Temia que se o privilegiasse, ele acabasse como muitos desses
poemas que se acham melhores só porque têm um apelo que lhes destacam para a
população. Fiquei intrigado com o desespero demonstrado por esse feto ancião. Posto
no mundo e lançado fora. Tão logo se mostrou confuso. Mais uma aberração. Acusava-me
de desprezo. De perfeccionismo. Apontava-me como alguém que se destaca pela
falta de compromisso. Compaixão! Tormento para todos os séculos. Que habitam os
meus nervos! E quanto aos outros que eu também dobrei, amassei, atire e os
juntei para que partissem e se decompusessem no lixão? Imaginem se todos
resolverem reivindicar o mesmo! Pouso, repouso, carinho, direitos! Será que
terei como mantê-los? O que mais se espera de um pai, nestes tempos? Aguardo
ansioso por este desfecho. Posso me tornar culpado por querer que eles façam os
seus próprios progressos? Com um pai a distância não conseguiriam ser poemas
inteiros? Desconfio dos que dizem que sabem interpretar as leis. Que são
mestres em se manterem neutros. Eu só quero ficar no meu canto. Não tirem o meu
sossego! Espero que não me obriguem a vê-los...
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