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31 de agosto de 2011

Almoço em família

        Na TV, imagens de um jogo de futebol. No campo, as candidatas ao concurso de miss universo. Na mesa ao lado, um sorriso que pedia cumplicidade. Um pai junto de uma filha que, pelos seus dizeres, segundo seus desejos sempre tão imediatos, não estava satisfeito com a mulher que escolheu para viver, evoluir lado a lado. Esta dava suas garfadas e até sorria, concordando com o patriarca. Talvez imaginassem que o casamento lhes salvasse ou reforçasse as suas mediocridades. Segundo a declaração do juiz da “partida”, todas, além de lindas, estavam muito perfumadas. Câmeras bem posicionadas, close nos alongamentos dessas existências desperdiçadas. Close no rebolado para a comemoração de uma carreira invejada. Meu vizinho babando enquanto fazia seus comentários. Na minha cabeça, alguns pensamentos sobre como os empresários e os organizadores desses eventos não se empenhariam para desfrutar da intimidade desses corpos vendidos como mais algumas marcas. Desde quando inteligência e beleza se encontraram unidas em nosso imaginário de machões, conquistadores, otários? Desde quando as feministas estão certas em afirmar que as mulheres estão lutando e conquistando espaços para afirmarem sua feminilidade? A comida estava muito saborosa – como sempre bem temperada – o triste é que a maldita televisão vive ligada e ajustada nesse programa sobre essa marmelada. Paixão e evasão de quase toda a moçada. Viva! – disse meu estômago. Viva o futebol, os rodeios, o carnaval, o funk, o pop e o sertanejo universitário! Viva a lambada e principalmente o rock ‘n’ roll que, afirmando ser contestador, as estampa em suas capas! Viva as próprias mulheres que alimentam essa estupidez que praticam e se submetem longe e perto das baladas! Viva as personalidades que não se conhecem, desesperadamente se convencem, e que nessa relação negada consigo mesmas, batalham para se manter cada vez mais afastadas! Viva às suas rotinas diárias, suas experiências que nunca acabam e viva, sobretudo, à minha indigestão gástrica!

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