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30 de agosto de 2011

Indignações

Não posso assinar essa folha de papel. Não vejo este planeta e as relações que aqui construímos como espaços para a artificialização. Mesmo você apelando para o futuro de seus filhos, dos meus, de todas as crianças que sofrem por serem geradas e criadas como uma obrigação. Tenho certeza que minha consciência me lembraria desse fato e me alertaria sobre a minha, a nossa, a tão esperada servidão. Percebo a sua boa vontade, mas me convenço ainda mais da covardia relacionada à sua ação. O seu abaixo-assinado reivindicando a redução do número de vereadores da cidade de Londrina só atesta a medida desta vã participação. Jogar o jogo dentro das regras da opressão nunca foi compromisso. Medidas paliativas não reajustam as contas, não passam de propaganda de inclusão. Tentei lhe explicar a minha posição e você me olhou como se eu fosse uma aberração. Falou que era formado pela famosa universidade desta cidade e que sabia o que estava fazendo. Difícil não sorrir quando repasso mais essa encenação! Difícil aceitar que uma vida se limite a ser uma sucessão de situações! Acontece que a nossa história está repleta de evidências de que esse jogo chamado democracia não passa de mais uma mentira inventada para nos mantermos como fiéis alicerces dessa situação. Se você não pode sustentar sua memória, é sinal de que suas defesas lhe confortam pra valer, hein irmão! Um empecilho talvez seja essa leitura de que a sua bíblia é autêntica e não um plágio de outras religiões pagãs. De que os seus conhecimentos acadêmicos te tornam um líder e não uma marionete do grande comércio da destruição! É muito provável que, enquanto você polui esse calçadão, seus filhos estejam estudando em escolas particulares, aprovadoras das estatísticas, adquirindo os saberes escolhidos por uma banca de vendidos para assumirem alguma posição de prestígio nessa corrida desesperada para a diferenciação. Resguardados do trabalho necessário para a manutenção da economia familiar, das violências que você pratica e acredita serem casos de repressão. Dependentes da intervenção de um estado e de todos os seus cúmplices que têm outros e mais rentáveis planos de ação. Provavelmente você os incentiva a buscarem cursos de especialização nesse mundo da supressão da carência e do desespero pela via da competição. Provavelmente você os queira ver num cargo de destaque para que você satisfaça sua própria frustração. Então, os alimenta com essa ideologia de que eles conquistam, com seus próprios esforços, seus diplomas, sua felicidade, suas propriedades de cidadãos. Embrutecidos, frios, insensíveis aos danos que eles causam buscando pertencerem ao seu meio, excursionando com seus comparsas para amplificarem suas experiências de acionistas da razão. Espero que tenha entendido, apesar de sua expressão não querer estabelecer nenhuma comunicação, que é esta sua coerência com os seus interesses que provoca e sempre vai provocar a minha indignação.

- Temos que superar essa fase de corrupção!
- Quem tem fase é transformador de energia elétrica! Seres humanos têm, ou melhor, deveriam ter e cuidar muito bem de suas vidas! Não se livrarem delas, se debatendo na superfície para esconderem os seus segredos no fundo desse mar de inveja e projeção!
- Você nega que essa seja uma manifestação honesta pela conquista e manutenção dos direitos?!
- Não, pelo contrário. Reconheço que é exatamente isso do que se trata aqui. O problema é que não nasci para me guiar por direitos que foram inventados para privilegiar alguns e manter todos na miséria de sua condição!
- Cara, você está deixando de lado sua cidadania! Você vai se arrepender de abdicar dessa experiência para enriquecer a sua vida! Você nega a sua responsabilidade!
- Experiências se fazem dentro de laboratórios. Não com seres vivos! Eu não sou uma experiência, mas se você quiser ser uma, vá em frente! Além do mais, essas experiências só têm servido para nos induzir a acreditar que precisamos delas!
- A alienação chegou aí e ficou, hein! Veja bem, olha a corrupção! Será que é isso o que Deus espera de nós?
- Somos nós que entregamos os meios para que estes imbecis miseráveis se sintam superiores por administrarem um pedaço do que chamam civilização! Incluindo aí as igrejas, as escolas, todos os departamentos e repartições. Aqueles que dizem te amar são os primeiros a te trair para sustentar suas mentiras, suas patéticas concessões! Seus segredos que, se revelados, outros abaixo-assinados surgiriam para fazer você deixar essa vertical posição!
- Não vai assinar, mesmo?
- Claro que não!
- Vá com Deus, então!

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