Páginas

6 de agosto de 2011

Subjetividade: uma prisioneira transferida

   A segurança da autoconsciência se associou às justificativas para as escolhas que fazia. Comunicando-se às vezes não se ocupava em ser compreendida. Em suas relações imaginava tão pouca sinergia entre as impressões que colhia. O que parecia medo, terror, princípio – material para fazer-se cooperativa – não passava de orgulho. Inveja se reinventando a partir daquilo que não tinha. Sentindo a vaidade alheia, a vontade criava uma nova fantasia. Sua essência imaginária já não brilhava. Não atraía como ela realmente queria. Tudo muito diferente dos tempos em que a idolatria não se revelava tão cristalina. Expressava aquilo que lhe pediam assegurando o assento de sua autoestima. Talvez um pouco ressentida. O que lhe escapava era fruto de sua mania. Muita atividade e tão pouca sintonia entre o seu agir e a sua alegria. Agora, depois de alguns anos de intensa expectativa, a conjugação de suas decisões não a desmentia. Seus olhos. Sua pele. Toda a massa se submetia. Toda a energia fluía. Para que a retórica continuasse sendo uma boa companhia. Aristocracia bem sucedida com o equipamento específico para a abstração das sensações de maneira compulsiva. Propriedades e investimentos para assegurar sua estadia no planeta sem respiro. Entretidos dentro e fora de algumas dimensões onde os sentidos estão atentos à responsabilidade de serem omissos. Apreendendo as formas que mais lhes aproximam de seus objetivos. Escondendo a angústia que percebia diante daqueles que lhe deprimem. Pedindo evidências de seu suposto pertencimento. Necessidades satisfeitas. Regras e leis que não virassem determinismos. Colocando-a como ideia, conceito, teoria. Ressignificando a simulação de seus sorrisos. Seus textos para o sujeito que só em casos extremos reagia. Fazendo os dias, as palavras e os sentimentos soarem cada vez mais confusos para encontrar algum caminho que a levasse para bem longe de todos os cárceres que construía. Vivência ignorada como causa de sua sangria. Recortes que dela ela mesma fazia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário