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2 de junho de 2011

Kafka

     Estou sustentando esse pilar há tanto tempo que já nem consigo imaginar algum motivo. Aguento firme, pois também dependo dessa convenção para me salvar, não ser repreendido. Minha família me ensinou o que é correto. As escolas por onde passei reforçaram esses sentimentos alheios aos conflitos. Ajudaram-me muito com meus comportamentos. Ah, todos os direitos me são previamente garantidos! Mesmo aqui, parado, tenho acompanhado todos os resultados. Isso me mantém afastado de todos os fracassos e arrependimentos. Ainda bem que me instruíram tão bem, pois assim fica muito mais fácil viver sem correr perigo. Às vezes me sinto um pouco cansado; percebo, então, que não vou mais suportar, mas meus amigos estão sempre por perto e me convencem a continuar lutando pelo que é justo e nunca desmedido. Desistir, agora, seria um crime. O que os outros iriam pensar se até mesmo o criador, todo bondade e sabedoria, me ameaça com o seu castigo? Aqui há o verdadeiro incentivo. Os objetos confortam. A propaganda magnetiza. Os passatempos consolam. Evitam que você perca o seu tempo refletindo sobre esse tal de genocídio. Desse modo, eu fico bem e espero que você também acerte o passo o quanto antes de sua quase vida. Você não pode, não deve, não tem como querer algo além disso. Será logo visto com desdém. Sem sentido. Indiferente ao que é imprescindível. Eles fazem você se sentir culpado. Eles fazem você agir com cuidado. Eles fazem você se sentir isolado. Desejar sinceramente o produto anunciado, pagando o valor merecido. Eles fazem você perder as esperanças. Espalhar, por todos os meios, o veredicto. Pois aqui, devo lhes dizer, também há o verdadeiro compromisso. O padrão de vida pode e deve ser atingido. Por isso, é necessário correr, aceitar seu destino, assim como eu estou fazendo, para ser alguém de prestígio. Eles o querem desse jeito. Investem em você e só se fala nisso. E você, o que está esperando para corresponder? Vir comigo? Ajudar-me a dar todo o apoio para esse edifício? Fazer o que necessita ser feito para não ser esquecido? Mais um vencedor nesse mundo onde o absurdo é o nosso mestre mais plausível.

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