Nem todo ciclo se encerra naturalmente. Alguns
requerem uma boa dose de insistência. Discernimento, autorrespeito e
autogestão para acalmar a agitação que transita pelo duo
corpo/mente. Reaprendizado para pousar o olhar onde a visão não está coaptada a ser condescendente. Incorporado após vivenciar a
angústia, a ira e o luto decentemente. Acondicionando as lembranças
sem as bricolagens que nos acostumamos a fazer com os fatos que sucederam. Exemplo. A passagem da sociedade do controle e/ou disciplinar
para a sociedade do desempenho. Ao contrário do que muitos pensam,
não foi uma transição que simplesmente se deu devido à evolução
das condições naturais que evolvem nossa existência. Os mecanismos
de domínio foram relativizados até o limite de não precisarem
serem impostos de fora para dentro das humanas consciências.
Introjetados como liberdade de tudo poder fazer, como
num cenário de comercial de cartão de crédito, o indivíduo se
assumiu como vítima e carrasco de si mesmo. Cumprindo os ditames da
performática ausência e se punindo quando o fracasso aparece.
Fracasso que também é parte do processo de voluntário alistamento
para que a busca por melhores scores nunca termine e os cases de
sucesso sejam perseguidos indefinidamente. Sem alteridade, uma
multidão ensandecida de potenciais sujeitos vai se igualando de uma
forma talvez nunca vista anteriormente. Procurando se diferenciar
exteriormente [e ficando cada vez mais padronizada exatamente por
isso], esquece-se de que o maior diferencial provém de dentro, da
subjetividade, a qual, enclausurada e acuada pelo medo de não
pertencer, de ser reprovada pelo cultuado narrador do stand up interno, ataca sem
trégua. Ferida e ferindo, pois do jogo essa é a regra. Vingança
para provar o valor do investimento. Finge-se que nada está
acontecendo, faz-se o que der na telha e esconde-se para baixo dos
tapetes que estamos todos doentes, procurando nos outros – nesses
esbarrões arranjados pelo capital, os quais chamamos de direito à
escolha do lazer que melhor nos aprouver [veja o que fizemos
culturalmente] – algum resquício de vínculo, respeito e
comprometimento. O que me intriga é: Quando deixaremos de lado as
distrações e prestaremos atenção ao modo como estamos nos
desfazendo? Em um mundo onde a positividade é a lei, ser crítico,
recorrer à negatividade de nada fazer que corresponda à reatividade prescrita pelo global experimento, é um modo consciente
de apaziguar o modo sobrevivência e acolher as sutilezas da vivência.
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