“Estou
morrendo sem estar doente, estou morrendo de uma existência fria demais para
resistir. Olho através de uma janela para a luz de um dia terrível, que
embrulha meu estômago. Ninguém mais se sente assim? Estarei completamente
louco?”
“Arte
é nossa agonia transformada em razão.”
“Escrevo
para ter uma função. Sem isso cairei doente e morrerei. É tão parte de alguém
como o fígado ou o intestino, e quase tão glamoroso quanto.” [Charles Bukowski]
Também estive pensando sobre o
que significa escrever. E sabem a que conclusões eu cheguei? Acho que escrevo
porque gostaria de viver. Como toda pessoa que se preza e valoriza o seu
existir. Como todo suicida que adia a sua hora até quando não houver mais gente
dizendo-lhe para partir. Porque adoraria ser mais certeiro em minhas utopias.
Menos divido entre minhas recusas de admitir. Menos multiplicado pelo pouco que
um dia já diferi. Porque queria deixar essa matemática nos cadernos e livros
que já se foram sem que ao menos eu suspeitasse para onde eles queriam
realmente ir. Porque queria muito saber. De onde vem, para onde vai, quem são,
afinal, meus parceiros nesta minha procura por manter-me longe e cada vez mais
perto de ti. Vida?! Poesia?! Saberei a que me dedico, ao menos por alguns
instantes dos meus dias? Insistindo que sou só todos estes eus que conheço e
desconheço. Que me arrastam, contrastam, me contestam. Expelem o que fui, o que
sou e o que este nós quer para fazermos nossos festins. Acho que escrevo, pois
preciso me vasculhar como se faz nos mais cobiçados garimpos. Necessito me
perceber tal como a fala que precisa sair. E não sai. Ou sai toda enovelada por
medo de não ser e às vezes até de soar como mais um conjunto de palavras que só
aparece porque não tem mais como ou porque se divertir. Avaliar-me, aceitar ou
refutar, o que nem mesmo em sonho consigo interferir. Escrever começa sendo
mais como um método de encarar e também de escapulir. De defesa e de ataque. Ao
compromisso que quero firmar sem direito desse contrato se rescindir. Para que
consiga tatear entre algumas das minhas vontades e julgá-las construtivas.
Ainda que só para mim. Para que não desista e consiga chegar até o fim. Seja
isto o que quer que seja, enfim. Escrevo sempre pensando num tipo de diálogo
entre o que se cala e o que grita. Discorda. Vomita. Toda vez que intui que não
há nada mais aqui além desta água turva que talvez não faça mais questão de
viver junto de mim. Escrevo como meio de me autodescobrir. Falando o que penso
só para que minhas entranhas consigam ouvir. Mas por que publico o que escrevo,
então?! Acho que tem a ver com uma ideia maníaca de tentar ajudar, contribuir.
Ainda que com a minha confusão. Poder sentar-me e deixar os raciocínios fora de
moda se exibir! Inserindo-me em algum espaço onde o tempo é diferente do contar
das experiências para que o possível mérito possa vir. Escrevo e publico como,
ou melhor, na tentativa de que alguém se proponha a entender. Sentindo algumas
afinidades, querendo debater, resgatando as opiniões que ninguém mais quis
refletir. Acho que é por isso. Para que alguns movimentos também tenham as suas
chances de se iludirem. Tínhamos medo, mas era só começarmos que logo lá
estávamos nós procurando outras expressões para que os sentidos dos desabafos,
das agonias e das críticas pudessem aparecer e logo depois virem simplesmente a
se diluir. Tal como um alimento que não tem consciência, mas que contribui, sem
ter de se declarar, para continuar a nutrir. Já havia escrito alguns textos
sobre o que acredito consistir o ato de escrever, mas a única coisa que aprendi
é que há muitos outros que ainda vou querer escrever. E que, agora mesmo,
começam a se construir...
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