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19 de fevereiro de 2014

O fim

“Estou morrendo sem estar doente, estou morrendo de uma existência fria demais para resistir. Olho através de uma janela para a luz de um dia terrível, que embrulha meu estômago. Ninguém mais se sente assim? Estarei completamente louco?”

“Arte é nossa agonia transformada em razão.”

“Escrevo para ter uma função. Sem isso cairei doente e morrerei. É tão parte de alguém como o fígado ou o intestino, e quase tão glamoroso quanto.”                                                                                                                                        [Charles Bukowski]


        Também estive pensando sobre o que significa escrever. E sabem a que conclusões eu cheguei? Acho que escrevo porque gostaria de viver. Como toda pessoa que se preza e valoriza o seu existir. Como todo suicida que adia a sua hora até quando não houver mais gente dizendo-lhe para partir. Porque adoraria ser mais certeiro em minhas utopias. Menos divido entre minhas recusas de admitir. Menos multiplicado pelo pouco que um dia já diferi. Porque queria deixar essa matemática nos cadernos e livros que já se foram sem que ao menos eu suspeitasse para onde eles queriam realmente ir. Porque queria muito saber. De onde vem, para onde vai, quem são, afinal, meus parceiros nesta minha procura por manter-me longe e cada vez mais perto de ti. Vida?! Poesia?! Saberei a que me dedico, ao menos por alguns instantes dos meus dias? Insistindo que sou só todos estes eus que conheço e desconheço. Que me arrastam, contrastam, me contestam. Expelem o que fui, o que sou e o que este nós quer para fazermos nossos festins. Acho que escrevo, pois preciso me vasculhar como se faz nos mais cobiçados garimpos. Necessito me perceber tal como a fala que precisa sair. E não sai. Ou sai toda enovelada por medo de não ser e às vezes até de soar como mais um conjunto de palavras que só aparece porque não tem mais como ou porque se divertir. Avaliar-me, aceitar ou refutar, o que nem mesmo em sonho consigo interferir. Escrever começa sendo mais como um método de encarar e também de escapulir. De defesa e de ataque. Ao compromisso que quero firmar sem direito desse contrato se rescindir. Para que consiga tatear entre algumas das minhas vontades e julgá-las construtivas. Ainda que só para mim. Para que não desista e consiga chegar até o fim. Seja isto o que quer que seja, enfim. Escrevo sempre pensando num tipo de diálogo entre o que se cala e o que grita. Discorda. Vomita. Toda vez que intui que não há nada mais aqui além desta água turva que talvez não faça mais questão de viver junto de mim. Escrevo como meio de me autodescobrir. Falando o que penso só para que minhas entranhas consigam ouvir. Mas por que publico o que escrevo, então?! Acho que tem a ver com uma ideia maníaca de tentar ajudar, contribuir. Ainda que com a minha confusão. Poder sentar-me e deixar os raciocínios fora de moda se exibir! Inserindo-me em algum espaço onde o tempo é diferente do contar das experiências para que o possível mérito possa vir. Escrevo e publico como, ou melhor, na tentativa de que alguém se proponha a entender. Sentindo algumas afinidades, querendo debater, resgatando as opiniões que ninguém mais quis refletir. Acho que é por isso. Para que alguns movimentos também tenham as suas chances de se iludirem. Tínhamos medo, mas era só começarmos que logo lá estávamos nós procurando outras expressões para que os sentidos dos desabafos, das agonias e das críticas pudessem aparecer e logo depois virem simplesmente a se diluir. Tal como um alimento que não tem consciência, mas que contribui, sem ter de se declarar, para continuar a nutrir. Já havia escrito alguns textos sobre o que acredito consistir o ato de escrever, mas a única coisa que aprendi é que há muitos outros que ainda vou querer escrever. E que, agora mesmo, começam a se construir...

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