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1 de abril de 2020

atrito

pensar em civilização
pressupõe considerar o atrito
talvez porque
apesar de todos os potenciais disponíveis
e de todas as riquezas que produzimos
somos forçados a trabalhar muito mais do que o devido
para uma pequena minoria monopolizar e monopolizar sem limites

contêineres cheios de mercadorias
e barrigas vazias
cofres ultra protegidos
e pessoas mortas todos os dias
pela fome, pela miséria
pelas barreiras reais e imaginárias
socialmente construídas e justificadas como imprescindíveis

mercado econômico cultuado
por pessoas em destaque
e também pelas pessoas esquecidas
escravizadas pelo próprio modo de produção
que as exterminam

talvez o atrito
reduza essa velocidade alucinante
nos convença de que as convenções sociais
não são independentes dos limites físicos
de um universo onde nossos atos não passam assim tão despercebidos

talvez nossa felicidade
assuma outra rumo
não provenha mais da fuga da dor
mas advenha da vida compartilhada
associada e comprometida com todos os organismos vivos.

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