Páginas

15 de novembro de 2013

Confiança

        O que é você, confiança? Por que, mesmo quando eu não sabia e nem precisava dizer o seu nome, já a sentia de vez em quando, e até associava-a em minhas recém-nascidas lembranças para que num possível reencontro pudesse em ti me fiar para continuar com alguma segurança? Quando eu, no auge da minha ignorância, fui aprendendo que a nossa interdependência era bem mais importante do que a minha explícita ou implícita arrogância. Como fui injusto supondo que durante algum tempo tenha havido justiça quando o assunto é a nossa sobrevivência! Com toda a seleção, os acasos e até os desacertos que se juntam para que a vida aconteça! Cresci quando me reconheci em algum destes elementos que a gente esbarra e acaba, como por efeito do reflexo, se apercebendo também das suas existências. Só junto deste outro é que fui me apreendendo como outro elemento. O que estamos querendo dizer quando nos queixamos da sua ausência? E por que será que, quando a sentimos enchendo nosso peito, somos menos intolerantes? Será este mais um dado que advém do que esperamos? Necessitamos. E de tudo o mais que buscamos na natureza, nos outros, para nós mesmos, quando nos vemos diante de uma vida convivida de forma desumana? Mistura de sentimentos com ideias que identificamos e cultivamos em nosso terreno? Ainda que pequeno. Só um pouco de terra e alguns instrumentos para que alguns valores e sonhos que elegemos cresçam ainda que nos longos e mais intensos invernos. Um fermento, um fenômeno, uma característica instintiva de muitas espécies, autoconsciência? Misturamos raivas com beijos, cuidados indispensáveis com a mais relativa indiferença... Nos revemos. Veja só o que fazemos! Duelos em nome de uma honra que só se projeta em si mesma? Bem, isso é o que fica transparente? Continuamos nutrindo fantasias. Acalentando expectativas. Julgando apoiados em nossas histórias-referências. Isto é um pouco do que somos. O resto pode ser apenas coisa da nossa própria cabeça. Ligada ao instinto, desenvolvemo-la como mais uma destas ferramentas que também colocamos a serviço de nossos desejos...

Um comentário:

  1. Há um enorme talento em sua escrita. Espero que tu tenha consciência disso...

    "Não basta ter talento, há de ter permissão primeiro para ele; não é amigos?"

    ResponderExcluir