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12 de setembro de 2011

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Para aprender, passamos pelos órgãos do Serviço de Educação Obrigatória. Objetivo: respeitar – incondicionalmente – os mais velhos, obedecer àqueles que mais se iludem com as promessas do poder de humilhar. Jamais responder. O espírito do mal, a anti-matéria, pode, milagrosamente, nos castigar. Estudar com compromisso (copiar, decorar) os fatos, as datas, as fórmulas, os conceitos. Imitar os exemplos, resolver exercícios, se alfabetizar em outra língua, passar no vestibular. Pagar impostos, tirar carteira de motorista, cumprir com as obrigações da junta civil e militar. Se preparar para enfrentar o mundo, conquistar o sonho que não é nosso. Competir para nos realizar. Sentindo tudo isso como uma necessidade desnecessária quando vivemos tentando achar alguma brecha, alguma fresta por onde possamos escapar, mesmo sem vida, da tirania deste lugar. Lendo um jornal, preparando o jantar, namorando, planejando qual brinquedo queremos comprar. Quais destes jogos preferimos jogar? Qual vocação será a nossa justificativa para continuarmos a reproduzir esse ataque nuclear? Com o tempo, a gente vai vendo que essa mente pensa sobre o corpo do qual pertence, mas está tão distanciada dele que chega a parecer impossível fazê-la voltar. Com o tempo, a gente vai encontrando válvulas de escape, a gente vai conseguindo se adaptar, vai aceitando, ajudando a naturalizar o superficial jeito de amar. Só o tempo para nos domar. E a gente cada vez com menos espaço para andar. Subia no telhado para poder respirar. Passava tardes inteiras batucando em panelas velhas para me safar. Escondia-me onde não os ouvisse brigar. Fugia para ver se conseguia me encontrar. Fugia soltando pipa, jogando futebol. Fugia quando recebia o aval para brincar. Fugia e, como hoje, não pensava em voltar. Eles aplicavam, praticavam consigo mesmos as regrinhas básicas: sorrir, mentir, e, na pior das hipóteses, se desculpavam, para que as portas ficassem sempre abertas à sua ambição de ganhar. Festejar o que lhes foi dado, instituído para estarem só de passagem, pois outra vida era e infelizmente ainda é tudo o que podem imaginar. Será que, como eu, eles já haviam se cansado de tentar?

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