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9 de setembro de 2011

Sol do luar

Escrever é agir. Se espreguiçar. Escrever é também se esconder. Resignar. Não é resolver. Escrever é lembrar. Reinventar. Tentar chegar. Caminhando sem parar. Saciar. Reproduzir. Procriar. Parar o tempo e deixá-lo passar. Escrever é devanear. Deixar fluir. Sair e entrar. Desconhecer-se. Cada segundo mais. Escrever é amar o ódio. Odiar amar. Simultaneamente saber, sentir, querer. Voltar a viver. Se distanciar. Para sobreviver. Naufragar. Fazer suposições. Brincar de formar juízos. Escrever é fantasiar. Se iludir. Tentar remediar. Mixar justificativas para se confortar. Mesmo que não tenha nada para falar. Escrever é forjar. Tramar. Mentir encorajadamente. Poder bisbilhotar. Escrever é ostentar. Levantar e cair. De um mar ou mesmo de um céu que você nunca soube onde está. Escrever é o que você acha que é. Escrever, para mim, é um jeito de ouvir. Pedir socorro. Sem conseguir ajudar. Escrever é se blindar. É fazer uma faxina. Escrever é prorrogar. Olhar a chuva. Respirar. Romper os tímpanos. Caçoar do paladar. Escrever não é traduzir. Expressar. Escrever é absorver a melodia e se arrepiar. Não é só se vingar. Estudar métodos e técnicas e não se contentar. Escrever é exibir o medo sem se importar. Carecer de equilíbrio. Escrever é adotar. Cuidar de um ser vivo que você não precisou conquistar. Escrever não é seduzir. Escrever é envenenar o próprio sangue. Trocar uma porção de palavras pela sensação de agradar. Dialogar. Segurar com firmeza as mãos para que parem de chorar. Que parem de bater. Que parem de computar. O futuro dessas crianças tão velhas que vão para as escolas para compensar. Escrever é desenhar. Uma moldura para outra estrutura familiar. Escrever é acordar. É constatar que, apesar dos sonhos desta noite ensolarada, quase tudo ainda continua no mesmo lugar.

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