...Silvestre. Comédia.
Dona Laura. Escancara! Palavras que me vem à mente. Palavras que nos
foram ensinadas. Inventadas ao longo de nossos tempos. Transformadas
quando não mais significavam. Vivências. Impressões de expressões
necessitadas. Silvestre poderia ser o nome dado ao personagem.
Poderia ser qualquer alternativa para que a fala não se cale. Para
que os olhos continuem vendo. Para que nosso olfato nos ajude a
compreender o outro. Também em suas particularidades. Para que
continuemos ouvindo as composições da natureza na acústica
projetada pela sociedade. Para que a alma continue perscrutando.
Sobretudo a sua indestrutibilidade. Tateando palavras. Respirando os
sons de um novo comentário. Sonhando com todo esse material há
muito já guardado. Ideias mescladas com ideais. Palavras que
continuam sendo formas a serem interpretadas. Nas cavernas da
pós-modernidade. Nos nossos mais requintados habitats. Palavras,
frases inteiras, imagens cantadas. Fluxos e refluxos na universal
tentativa de nos vermos mais aproximados. Comédia: sentidos que são
afetados. Instigados a reagirem. Construindo outras representações
sobre possíveis verdades. Dona Laura. Como recriar o que só foi
sentido naquela sala? A partir daquela fala, daquele gesto, daquela
troca que eu nunca havia experimentado? Marcas que são impressas em
nossas integridades. Postergados são os raciocínios. As escolhas
para capturarmos, só por alguns instantes, nossas sensações mais
vitais. Trazendo às claras noções aproximadas. Definindo, assim,
suas próprias gramáticas. Tão falíveis e indeterminadas quanto
nós. Animais civilizados. Escancara! Foi esta a sua dica para mim
que estava vendo-o pela primeira vez. Não esperou por algo tão
formal para demonstrar que se sentia conectado. Indireta e
diretamente. Sofrendo a intervenção dos mesmos astros. Chamava-se
Cláudio e veio a perecer em mais uma destas clínicas onde dopam,
sedam, amarram, dão cabo às anormalidades. Seu pecado:
esquizofrenia. Cantava, lavando a louça do almoço, antes de tomar
mais um pouco de café, acender mais um cigarro e retornar ao seu
quarto: “Sim. Eu estou tão cansado. Mas não pra dizer. Que eu não
acredito mais em você. Com minhas calças vermelhas. Meu casaco de
general. Cheio de anéis. Eu vou descendo por todas as ruas. E vou
tomar aquele velho navio. Aquele velho navio. Talvez eu volte. Um dia
eu volto. Quem sabe! Mais eu quero, eu preciso esquecê-la. Oh, minha
grande. Oh, minha pequena. Oh, minha grande. Obsessão”...
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