Páginas

20 de abril de 2013

Nauta


...Silvestre. Comédia. Dona Laura. Escancara! Palavras que me vem à mente. Palavras que nos foram ensinadas. Inventadas ao longo de nossos tempos. Transformadas quando não mais significavam. Vivências. Impressões de expressões necessitadas. Silvestre poderia ser o nome dado ao personagem. Poderia ser qualquer alternativa para que a fala não se cale. Para que os olhos continuem vendo. Para que nosso olfato nos ajude a compreender o outro. Também em suas particularidades. Para que continuemos ouvindo as composições da natureza na acústica projetada pela sociedade. Para que a alma continue perscrutando. Sobretudo a sua indestrutibilidade. Tateando palavras. Respirando os sons de um novo comentário. Sonhando com todo esse material há muito já guardado. Ideias mescladas com ideais. Palavras que continuam sendo formas a serem interpretadas. Nas cavernas da pós-modernidade. Nos nossos mais requintados habitats. Palavras, frases inteiras, imagens cantadas. Fluxos e refluxos na universal tentativa de nos vermos mais aproximados. Comédia: sentidos que são afetados. Instigados a reagirem. Construindo outras representações sobre possíveis verdades. Dona Laura. Como recriar o que só foi sentido naquela sala? A partir daquela fala, daquele gesto, daquela troca que eu nunca havia experimentado? Marcas que são impressas em nossas integridades. Postergados são os raciocínios. As escolhas para capturarmos, só por alguns instantes, nossas sensações mais vitais. Trazendo às claras noções aproximadas. Definindo, assim, suas próprias gramáticas. Tão falíveis e indeterminadas quanto nós. Animais civilizados. Escancara! Foi esta a sua dica para mim que estava vendo-o pela primeira vez. Não esperou por algo tão formal para demonstrar que se sentia conectado. Indireta e diretamente. Sofrendo a intervenção dos mesmos astros. Chamava-se Cláudio e veio a perecer em mais uma destas clínicas onde dopam, sedam, amarram, dão cabo às anormalidades. Seu pecado: esquizofrenia. Cantava, lavando a louça do almoço, antes de tomar mais um pouco de café, acender mais um cigarro e retornar ao seu quarto: “Sim. Eu estou tão cansado. Mas não pra dizer. Que eu não acredito mais em você. Com minhas calças vermelhas. Meu casaco de general. Cheio de anéis. Eu vou descendo por todas as ruas. E vou tomar aquele velho navio. Aquele velho navio. Talvez eu volte. Um dia eu volto. Quem sabe! Mais eu quero, eu preciso esquecê-la. Oh, minha grande. Oh, minha pequena. Oh, minha grande. Obsessão”...

Nenhum comentário:

Postar um comentário