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27 de abril de 2013

A lógica de Marta

Marta estava cansada. Tencionada, carregava voluntariamente a sua carga para, no final do dia, poder vê-la de volta ao ponto onde a decisão também se iniciava. Com os frutos deste trabalho sobrevivia, comprava coisas, se mantinha dentro dos cenários. Viajava e os prazeres da vida nunca lhe bastavam. Alternava as escusas para melhor ajustar-se. O pior era ainda ter que dizer que estava tudo bem. Que, na chegada, uma boa recompensa a aguardava. Fora preciso humildade para reconhecer que não saltava. Quanto mais escondia, mais essas sensações se mostravam. Pouco importava se usava os produtos mais caros para a sua beleza e a sua bondade invejáveis. Quanto mais aparecia, menos sua insignificância lhe abandonava. E ela se desesperava. Revoltava-se. De familiarizada consigo mesma e com o mundo, ela se debatia agora com o alcance impreciso de suas ideias mais aclamadas. Acadêmica pós-graduada. Autoridade em determinado campo do conhecimento que sempre lhe escapava. Era-lhe necessário um pouco de silêncio para perceber o que o seu orgulho soterrava. Visitas às fraternidades. Incontáveis braçadas pelas superfícies criadas. Comportamento ecologicamente correto para um fiel praticante dessa rotina alucinada. Sua estante repleta de livros muitas vezes fora julgada como sinônimo de erudição, conhecimento, e, consequentemente, ganho de causa. No entanto, representava uma procura interminável de uma alma sem qualquer preciosidade. Perdia-se e, ao contrário do que esperava, não se encontrava. Esmagava-se sob estes problemas porque estava em busca de soluções, não tolerava mais dentro de si estas ideias imantadas. Causas eternas e consequências variadas.

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