Marta estava cansada. Tencionada, carregava
voluntariamente a sua carga para, no final do dia, poder vê-la de volta ao
ponto onde a decisão também se iniciava. Com os frutos deste trabalho sobrevivia,
comprava coisas, se mantinha dentro dos cenários. Viajava e os prazeres da vida nunca lhe bastavam. Alternava as
escusas para melhor ajustar-se. O pior era ainda ter que dizer que estava tudo
bem. Que, na chegada, uma boa recompensa a aguardava. Fora preciso humildade
para reconhecer que não saltava. Quanto mais escondia, mais essas sensações se mostravam.
Pouco importava se usava os produtos mais caros para a sua beleza e a sua
bondade invejáveis. Quanto mais aparecia, menos sua insignificância lhe
abandonava. E ela se desesperava. Revoltava-se. De familiarizada consigo mesma
e com o mundo, ela se debatia agora com o alcance impreciso de suas ideias mais
aclamadas. Acadêmica pós-graduada. Autoridade em determinado campo do conhecimento
que sempre lhe escapava. Era-lhe necessário um pouco de silêncio para perceber
o que o seu orgulho soterrava. Visitas às fraternidades. Incontáveis braçadas
pelas superfícies criadas. Comportamento ecologicamente correto para um fiel
praticante dessa rotina alucinada. Sua estante repleta de livros muitas vezes
fora julgada como sinônimo de erudição, conhecimento, e, consequentemente,
ganho de causa. No entanto, representava uma procura interminável de uma alma
sem qualquer preciosidade. Perdia-se e, ao contrário do que esperava, não se
encontrava. Esmagava-se sob estes problemas porque estava em busca de soluções,
não tolerava mais dentro de si estas ideias imantadas. Causas eternas e
consequências variadas.
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