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22 de fevereiro de 2013

Pegadas

Por essas trilhas abertas no meio do que um dia já foi uma mata, vou fugindo desesperado. Sinto a dor das balas alojadas em meu corpo e a minha visão vai ficando cada vez mais embaralhada. Há vários caçadores seguindo minhas pegadas e as marcas que o meu sangue vai deixando por onde passo. Eles estão eufóricos. Querem as minhas presas para fazer dos seus negócios. Obras de arte, joias. Peças estimadas que acabem gerando sensação em seus museus e em suas casas. Ora, olhem para esta devastação e me digam: Ainda precisam de mais para que sejam lembrados na posteridade? Não lhes parece absurdo se divertirem, se distraírem com tamanha crueldade? Quantos de nós seremos aprisionados para que eles tenham o que julgam indispensáveis? E, porque é que nós é que temos que pagar pelos caprichos de suas ensandecidas vaidades? Já não consigo mais correr. Minhas pernas hesitam. As vistas se apagam. Acho que não há mais lugar seguro em que possamos viver sem sermos ameaçados. Encurralado, só me resta lutar, mas as balas vêm de todos os lados. Se pudesse, lhes entregaria o que querem; ao menos continuaria vivo, mas sei que eles não concordariam. Não se saciariam de verdade. Você precisa ver como eles ficam mais felizes, sentem-se mais humanos, quando carregam, engatilham, miram e me atingem com suas várias armas. A dignidade, uma vez perdida, é muito difícil de ser reencontrada.

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