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4 de dezembro de 2021

Recompensas

   Desliga o despertador. Levanta-se da cama e corre até o banheiro. Aciona o modo alerta com o impacto da água do chuveiro. Olha-se no espelho. Remexe na gaveta. Seleciona um combo específico de remédios. Volta ao quarto. Retira um sorriso novo em folha do guarda-roupa. Boceja mais um pouco. Enquanto vai acoplando esse objeto até sentir o atrito com o lado oposto da sua pele. Vislumbra um corpo estatelado sobre a cama. Procura, mas não encontra qualquer lembrança em sua mente. Só os vestígios turvados que não alteram a posição habitual do seu termômetro interno. Veste-se elegantemente. Otimista. Com os elogios e as investidas que vem recebendo dos perfis adicionados recentemente. Alcança o celular e checa os resultados. Será que as novas fotos foram suficientes? Propostas para jantar. Cinema. Motel... Deixa para depois o veredito. Precisa analisar melhor como eles se definem e quais são as suas redes de amigos. Sem se esquecer de afastar a espontaneidade e prezar pelas regras do mundo corporativo. Como bem reza a cartilha. Pega a chave do carro e sai pensando em como conduzirá as conversas para que elas transitem invariavelmente em torno de si. E de quão fantástica vem sendo a sua vida. Desce pelo elevador e dispara com o carro pelas ruas tomadas pelas aberrações sempre mal amadas que só lhe causam aversão e vontade de ir viver em outro país. Onde o sol não lhe pareça como algo estranho. Parte de outro universo onírico. No qual consiga se reconhecer e interagir. Com sentimentos genuínos. Por precaução, coloca os óculos escuros. E segue. Sempre sorrindo.

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