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1 de dezembro de 2021

Aquilo que não podemos mencionar

  Nesse hospital. Aguardando por uma ultrassonografia. Senti, pensei. Se precisamos de cuidados na infância e na adolescência. Se continuamos precisando desse achego na velhice. Então, por que negar essa necessidade na vida adulta? Como se, vencendo fases, nos tornássemos blindados, insensíveis. Tal como deuses que são exemplares em seus abandonos e desapegos para sustentarem a doação de uma liberdade de mentira? Compreendo que depois de alguns dissabores, desilusões, traições. Fica mais difícil pensar em criar elos. Talvez pareça mais fácil e prático defender-se, mas onde esconder ou para que lado canalizar essas pulsões intrínsecas? Muitos já tentaram enterrando-se em seus trabalhos. Experimento fracassado. Outros viciaram-se em álcool, drogas, sexo, jogos, comida… Procurando sensações análogas, mas as frustrações ainda persistem. Vendo esses homens e essas mulheres com suas saúdes extremamente comprometidas. Fragilizados e muito gratos por serem acolhidos. Intuí que não há motivos para toda essa esquiva. De deixar claro o que nos é imprescindível. Convívio, troca, carinho. Que isso seja explícito. Sem covardia. Nada de fingir, forjar uma armadura ou continuar com essa guerra. Entre quem somos e como somos. Nesse universo de partículas interativas.

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