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8 de outubro de 2011

Chamado ao coração

        Sou um corpo convivendo com outros corpos controlados por milhões de egos que lutam, escravizam, torturam, exterminam a natureza e seus próprios semelhantes para se diferenciarem, experimentarem, obterem, acumularem, progredirem, controlarem, manterem, propagarem seus poderes políticos, econômicos, científicos dentro deste território demarcado. Sou um corpo negligenciado porque só assim esses egos conseguem satisfarem seus prazeres, fingirem-se realizados. Sofrendo e impondo essa lavagem cerebral, essa inversão de valores para ostentarem suas quase comodidades. Apoiados em muitos meios, em suas memórias subjugadas, para fazerem-se respeitados. Disciplinando seus corpos, suas forças e suas criatividades para acreditarem-se preparados, possuindo as últimas novidades e se divertindo junto das personalidades mais cotadas. São egos em conformidade com seu século, são pessoas muito bem-quistas em suas sociedades. São coerentes, mas estão equivocados. Como sei disso?! Basta vê-los conversando, competindo, incentivando a repetição, penhorando seus sentimentos face às promessas deste sucesso que torna seus corações cada vez mais fechados.


Houve um tempo – quando todos os seres viviam em harmonia e as coisas inanimadas não significavam nenhuma posição diferenciada, quando não existiam territórios demarcados e muito menos batalhas, quando não havia religiões e os homens não precisavam de deuses ou de profissionais para justificar ou se responsabilizar pelos seus atos, quando todas as tarefas eram divididas de acordo com os potenciais e as vontades e a subsistência bastava, quando homens, mulheres, crianças e idosos não eram discriminados – em que existiram vários seres humanos de verdade. Cresciam juntos e jamais precisavam pensar em lutar por sua liberdade. Simplesmente a desfrutavam. Naturalmente, sem panfletos, jornais, teorias, classes ou sindicatos. Esses seres tinham olhos que não conseguiam deixar de mirar os olhos de seus amados. Brilhavam com mais intensidade quanto mais próximos estavam. Jamais forjavam situações para se encontrar, pois nesse tempo a sinceridade não era nenhuma dádiva. Todas as crianças sentiam-se amadas. Brincavam, aprendiam, eram sempre amamentadas. Nesse tempo, os pais sempre tinham muito tempo, muito espaço para ouvir, contar e comentar toda sorte de fatos, sempre com cuidado, pois ali ninguém havia sido machucado. Em suas almas havia calma, a serenidade era o que os confortava. Houve um tempo em que palavras como empatia não eram usadas para embelezar a amizade que todos compartilhavam. Houve um tempo que os valores eram ensinados na lida diária. Não havia escolas, horários estabelecidos, todos eram autodidatas. Não havia notas, boletins, recompensas ou castigos para quem aprendia mais ou menos rápido. Todos eram respeitados e jamais houve qualquer privilégio para os que viviam pelo bem comunitário. Eram eles, inclusive, os que mais abdicavam, abriam suas vidas para sugerir, ensinar o quanto seguir seus corações era a escolha mais acertada. É claro que erravam, mas reconheciam tão logo sentiam suas faces coradas; quando prejudicavam, não conseguiam dormir, não se sentiam relaxados quando desfrutavam de algo que era privado. O perdão era instantâneo e jamais se fez tanto pelo bem, pela preservação, pela evolução da sensibilidade. Pois nesse tempo os corpos não eram vistos, sentidos, idealizados e dominados pelos egos. Não significavam meios, porque esses egos, com os corpos, eram integrados.

2 comentários:

  1. “Você pode não ser o primeiro homem dela, o último homem dela ou o único homem dela. Ela amou antes, pode ser que ela ame de novo. Mas se ela se ama agora, o que mais importa? Ela não é perfeita - você também não é, e vocês dois podem nunca ser perfeitos juntos, mas se ela te faz rir, te faz pensar duas vezes, e admite ser humana e cometer erros, segure-se a ela e dê a ela o máximo que você puder. Ela pode não estar pensando em você a cada segundo do dia, mas ela te dará uma parte dela que ela sabe que você pode quebrar - o coração dela. Então não machuque ela, não mude ela, não analise e não espere mais do que ela pode dar. Sorria quando ela te fizer feliz, diga a ela quando ela te deixar com raiva, e sinta a falta dela quando ela não estiver por perto.”

    Bob Marley

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  2. Bob Marley sobre amar uma mulher

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