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15 de dezembro de 2022

Reserva

Tenho uma criação de monstros em um espaço tombado de minha mente. Lá eu posso encontrar indivíduos de muitas espécies e, com o tempo, algumas mutações já aparecem. Por mais que fique junto deles, e os queira realmente, sei que muito de suas peculiaridades me escapa por entre os dentes. Mesmo que os encontre e os prenda, após sedá-los – como o costume me fez aceitar como a atitude mais prudente – não consigo contê-los. Fogem de minha proteção como se ela trouxesse uma dor ainda mais pungente. Tenho, enfim, uma criação que não me pertence. Fogem, reproduzem-se, criam seus filhos e filhas que também me desdenham. Vivem sem confiança, sem segurança ou quaisquer outros sentimentos de afeto os quais acreditei que requisitariam de mim infalivelmente. Eles simplesmente vivem, se divertem, sem precisarem de outro motivo além daquele que os faz viventes. Não lamento por eles assumirem o controle sobre suas vidas e me abandonarem após encontrarem outras genéticas onde podem interagir com resultados mais patentes. O que me espanta é que causem tão poucos danos a si mesmos quando, todos os dias, os combates por assombrarem outros cérebros acabam sendo feitos. Eles não perecem nestas guerras. Ao contrário, mostram-se cada vez mais fortes e capazes de se associarem para que os seus direitos se assentem. Portanto, meu amigo, preserve sua sanidade, sua simplicidade, sua ética, mas não se desespere quando for visitado por um ou mesmo por todos eles. Não os despreze. São eles, muitas vezes, que nos mostram quão múltiplos nós somos quando escolhemos. Acolha-os, ouça-os e você verá que, quando menos se espera, eles se vão e a gente se vê aguardando o seu retorno incerto. Impacientemente.

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