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14 de outubro de 2014

Estabilidade do estabelecido

Se retiraram mais um de seus direitos
E no lugar dele um conjunto de deveres usaram para substituí-lo
Não hesite!
Chame a polícia
Ofereça-se como parte do pagamento para assegurar a mercadoria
Recorra ao exército ou ao crime que só se organiza
Ligue para a vizinha, jamais aceite um favor se não puder retribuí-lo
Reclame desta mania que acabou se tornando coletiva
Proteste, expresse este vazio que tem sempre de ser preenchido
Cobre dos candidatos
Mesmo que só eles saibam do que o povo mais precisa
Demonstre o quanto lhe valeram os anos de escola, cantando todos os hinos
Cumpra com as suas obrigações para a continuidade desta quase democracia
Não deixe de tomar os seus remédios
Mantenha-se atento quando se formar a próxima fila
Não se esqueça de recolher todos impostos
Faça a sua parte
Demonstre piedade aos desassistidos
Comporte-se direitinho!
Coloque suas intenções na lista de orações que logo elas serão atendidas
Prove que você suporta chegar ao seu limite
E que pode prorrogar a sua realização até uma outra vida
Onde tudo é perfeito e a dignidade e a autonomia não são esquecidas
Vamos lá, continue sorrindo, aumente a sua oferta nos leilões dos delírios
Repita, quantas vezes for necessário, que as leis também são infalíveis
Que as propriedades não foram em algum momento instituídas
Que não há nada irrevogável além da morte que se anuncia
Pague a pensão, case-se com um bom partido
Planeje, parcele, invista pesado no seu tempo livre
Participe das estatísticas
Contribua com a inadimplência
Sinta-se feliz por não perceber esta tirania sobre a existência
Que te motiva a lutar por poderes ainda mais paternalistas.

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